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Análise de Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia" (1977), Dir. Héctor Babenco

Um clássico do cinema Brasileiro
  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 05/01/2025 01:18
  • Autor: Ricardo Corsetti

"A gente é aquilo que a polícia quiser que a gente seja. Afinal, pra polícia, todo preto é bandido mesmo" Assim falou o personagem vivido por Grande Otelo em: "Lúcio Flávio - O Passageiro da Agonia" (1977), Dir. Héctor Babenco. Filme que conta a história real do assaltante Lúcio Flávio Vilar (1944-1975) e seu envolvimento (quase involuntário) com policiais corruptos no Rio de Janeiro de meados dos anos 60 e início dos 70. Conta com ótimas atuações por parte de seu elenco estelar: Reginaldo Faria, Milton Gonçalves, Ivan Cândido, Paulo César Pereio, Grande Otelo, Ivan Setta, Ivan de Almeida, Lady Francisco e também as pequenas (mas importantes) participações de Stepan Nercessian e José Dumont. Obs: a cinebiografia de Lúcio Flávio, é um autêntico produto da contracultura setentista, no sentido da glamourização da figura do bandido (marginal), algo na linha "Seja herói, seja marginal", como diria a célebre frase do artista plástico Hélio Oiticicca. Tradição essa, iniciada em termos de cinema brasileiro, pelo magistral "O Bandido da Luz Vermelha" (1968) de Rogério Sganzerla; porém, a nível mundial, tal tradição remonta já a 1958, ano que o cineasta norte-americano Arthur Penn, lançou "Um de Nós Morrerá", cinebiografia do pistoleiro Billy The Kid. Obs 2: e por falar em "glamourização" da figura do marginal, sinceramente, nada mais justo, visto que, sobretudo em termos de Brasil, no período retratado pelo filme, a polícia (tanto no Rio, quanto em São Paulo), sob as bençãos do regime militar, comandava o chamado "Esquadrão da Morte", cujo real objetivo era executar sumariamente "bandidos", para posteriormente atribuir-lhes a culpa por grandes assaltos, na verdade cometidos em associação com a própria polícia que, posteriormente, após responsabilizar e executar tais bodes expiatórios, ainda assumiria, por baixo dos panos, o comando do tráfico de drogas nas referidas cidades. Em resumo, quem eram (ou são) os verdadeiros bandidos nessa história? Obs 3: e por falar em Esquadrão da Morte, se depender de certo lixão fascistóide, a quem meus conterrâneos elegeram governador do Estado de São Paulo, alguma dúvida, a partir de fatos recentes, envolvendo violência policial generalizada, que esta nefasta herança do Brasil dos anos de chumbo, pode voltar à ativa, muito em breve? Filme impactante e necessário, sem dúvida.