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A CIGARRA E A FORMIGA – UMA VERSÃO PÓS-MODERNA

(da série Textículos e Pequenas Fábulas)
  • Categoria: Humor
  • Publicação: 25/01/2025 01:06
  • Autor: Silvio Cosenza
Precisou bem uns quatro séculos desde La Fontaine para a gente desconfiar que
aquela parada entre a cigarra e a formiga não rolou exatamente como contam.
Talvez tenha a ver com aquele jeitinho pré-iluminista de ser, tão em voga naquela
época; era tipo cabelinho anos 80. A galera sabia que era feio prá cacete, porém
usava porque estava na moda, e ponto final. Assim, resolvi tentar esta versão
mais para pós-moderna, que outra coisa.
Diz que a formiga, aconselhada por seu empresário, foi batalhar um patrocínio
junto à Formigueiro Cia. Ltda. Tá estranhando o quê? A cigarra tinha empresário
sim. Era cantora (e compositora) profissional, na estrada há um bom tempo, sem
esse papo de amadorismo. É bem verdade que a crítica malhava, dizendo que as
músicas dela eram meio repetitivas, mas isso já é uma questão de gosto. Um
grande amigo meu sempre fala que gosto é como bunda: todo mundo tem, mas
nem toda é boa...
Aí, parece que a coisa travou. Sabe como é empresa familiar, né? E ainda por
cima, todo mundo lá era filho da dona. Você apresentava o projeto prá um, prá
outro, e vinha sempre a mesma ladainha “preciso falar com a mamãe”. O pior é
que a tal mamãe devia padecer de síndrome de rainha: não recebia ninguém,
não atendia telefone, nem respondia mensagens. Ô empresinha careta, meu
Deus!
Vai daí que a cigarra se emputeceu com o empresário por conta da dica furada,
lhe aplicou solene pé no rabo e assinou com um top. Este imediatamente a
apresentou na Colmeia INC, que já subsidiava o rouxinol. As abelhinhas foram
hiper receptivas, e como lá ninguém precisava falar com a mamãe, em poucos
dias fecharam o patrocínio através da Lei Rouanet. Resultado: a cigarra já gravou
DVD, planejou mídia e está em turnê mundial. A formiga? Segue na mesma, só
não se sabe por quanto tempo.
Por Silvio Cosenza
(Silvio adora uma abelhinha)