'Geni e o Zepelim', de Anna Muylaert, começa a ser rodado na Amazônia
Nova produção da Migdal Filmes, inspirada na música de Chico Buarque, traz no elenco principal Ayla Gabriela como Geni e Seu Jorge como o comandante do Zepelim
- Categoria: Cinema
- Publicação: 30/04/2025 01:22
- Autor: André Luiz Brandão Cisi

Ayla Gabriela dará vida à personagem Geni
O longa “Geni e o Zepelim”, primeira adaptação cinematográfica da clássica canção homônima de Chico Buarque, começa a ser rodado na próxima semana na Amazônia. Com direção e roteiro de Anna Muylaert e produzido por Iafa Britz, o longa conta a história da prostituta ribeirinha Geni, amada pelos desvalidos e odiada pela sociedade local. A atriz Ayla Gabriela assume o papel da personagem e Seu Jorge dá vida ao comandante do Zepelim. A produção é assinada pela Migdal Filmes, em coprodução com Paris Entretenimento e Globo Filmes. A distribuição nos cinemas ficará a cargo da Paris Filmes.
“Geni e o Zepelim” marca a estreia de Ayla como protagonista em longa-metragem. A atriz já protagonizou o curta “Pássaro Memória” (2023), de Leonardo Martinelli, selecionado para diversos festivais como Locarno Film Festival, Toronto International Film Festival, e Festival de Gramado. Dirigiu e atuou no curta “A corpa fala” (2020), e integrou o elenco de “Santo” (2023) e de “Girassóis” (2024). Ayla é também bailarina, trabalhou e estudou com a coreógrafa Lia Rodrigues. Em 2025, protagonizou com Cibelle Rodricco o curta-metragem “Defesa Pura”, de George Pedrosa, rodado em São Luís.
Pela primeira vez a personagem Geni ganha uma história exclusiva nos cinemas, livremente inspirada na canção homônima composta há cerca de 50 anos. Ao longo do tempo, a música conquistou diversas gerações, e recebeu várias interpretações no campo das artes. O nome Geni virou adjetivo para se referir a pessoas que sofrem recorrente humilhação pública, e agora a personagem terá a chance de um novo final.
“A proposta ao Chico Buarque foi de fazer uma adaptação cinematográfica da música dando um novo fim a Geni. Afinal, há quase 50 anos jogam pedra nela. Esse novo destino a Geni nos traz grande motivação e sentido.”, conta a produtora Iafa Britz.
O filme utiliza a mesma referência que o cantor usou para compor a música: o conto “Bola de Sebo”, do escritor francês Guy de Maupassant, que narra a história de uma prostituta fugindo da guerra franco-prussiana. “Ao ler o conto ‘Bola de Sebo’, vi que a letra da música tinha uma guerra embutida em seus versos. Não é usada a palavra guerra mas há um zepelim com dois mil canhões! E na adaptação, resolvi ambientar a história nas disputas por terras que ocorrem de forma indiscriminada na região amazônica”, explica a diretora Anna Muylaert. As filmagens ocorrem na cidade de Cruzeiro do Sul, no Acre, durante dois meses.
Sinopse:
Inspirado na canção homônima de Chico Buarque, o longa narra a história de Geni, prostituta de uma cidade ribeirinha, localizada no coração da floresta amazônica. Amada pelos desvalidos e odiada pela sociedade local, ela vê sua cidade sendo invadida por tropas lideradas por um tirano, conhecido como Comandante, que chega voando em um imponente zepelim, com um verdadeiro projeto de poder predatório para a região. Ele obriga todos a fugirem rio adentro, onde acabam presos. Porém, quando o Comandante vê Geni, ela percebe que talvez ainda haja uma chance de virar o jogo.
Ficha técnica:
Roteiro e Direção: Anna Muylaert
Produção: Iafa Britz
Produtores Associados: Anna Muylaert, Veronica Stumpf e Marcio Fraccaroli
Produtor Associado Acre: Sérgio de Carvalho
Produção Executiva: Mylena Mandolesi e Mauro Pizzo
Direção de Fotografia: Bárbara Alvarez, SCU
Direção de Arte: Rafael Ronconi
Figurino: Alex Brollo
Caracterização: Sonia Penna
Elenco por: Gabriel Domingues
Som Direto: Gabriela Cunha
Trilha Sonora: Flavia Tygel
Elenco: Ayla Gabriela, Seu Jorge e grande elenco
Produção: Migdal Filmes
Coprodução: Paris Entretenimento e Globo Filmes
Distribuição: Paris Filmes
O filme conta com investimento do Fundo Setorial do Audiovisual
Para ouvir a música de Chico Buarque, “Geni e o Zepelim”,acesse este link.
Letra original:
De tudo que é nego torto
Do mangue, do cais, do porto
Ela já foi namorada
O seu corpo é dos errantes
Dos cegos, dos retirantes
É de quem não tem mais nada
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina
Atrás do tanque, no mato
É a rainha dos detentos
Das loucas, dos lazarentos
Dos moleques do internato
E também vai amiúde
Com os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir
Joga pedra na Geni
Joga pedra na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante
Um enorme zepelim
Pairou sobre os edifícios
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geléia
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: Mudei de idéia
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade
Resolvi tudo explodir
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir
Essa dama era Geni
Mas não pode ser Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Mas de fato, logo ela
Tão coitada, tão singela
Cativara o forasteiro
O guerreiro tão vistoso
Tão temido e poderoso
Era dela prisioneiro
Acontece que a donzela
E isso era segredo dela
Também tinha seus caprichos
E a deitar com homem tão nobre
Tão cheirando a brilho e a cobre
Preferia amar com os bichos
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão
O prefeito de joelhos
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão
Vai com ele, vai Geni
Vai com ele, vai Geni
Você pode nos salvar
Você vai nos redimir
Você dá pra qualquer um
Bendita Geni
Foram tantos os pedidos
Tão sinceros, tão sentidos
Que ela dominou seu asco
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco
Ele fez tanta sujeira
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Joga pedra na Geni
Joga bosta na Geni
Ela é feita pra apanhar
Ela é boa de cuspir
Ela dá pra qualquer um
Maldita Geni
Sobre a diretora Anna Muylaert
Anna Muylaert é uma diretora e roteirista brasileira, nascida em São Paulo em 1964. Escreveu diversas séries para TV, entre elas “Castelo Rá Tim Bum” e “As Canalhas”. Colaborou no roteiro de diversos longas, como “O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias”. Escreveu e dirigiu 8 longas metragens, entre eles “Durval Discos”, “Mãe só há uma”, “Alvorada” e “Que Horas Ela Volta?”, vencedor do Prêmio do Público na 65ª Berlinale. Seu último filme, “A Melhor Mãe do Mundo”, acabou de estrear na 75ª Berlinale e está rodando o mundo em vários festivais. É Membro da Academia do Oscar. É mãe de José e Joaquim.
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