Bebês que passam pouco tempo ao ar livre têm maior risco de ansiedade
Estudo analisou quase 70 mil crianças de áreas urbanas na China. Rodolfo Damiano, pesquisador e professor da USP, explica o fenômeno
- Categoria: Saúde
- Publicação: 21/05/2025 20:00
- Autor: Sheila Grecco

Crescer pisando na grama. Esse hábito idílico dos tempos dos nossos avós talvez seja o segredo para a saúde mental das crianças. É o que revela estudo recente publicado na prestigiada revista inglesa BMC Psychiatry, pelos pesquisadores chineses Jian-Bo Wu e Yan Zhang, dentre outros, do Departamento de Psicologia Clínica do Hospital de Saúde Maternal e Infantil de Shenzhen Longhua. Foram analisadas quase 70 mil crianças em idade pré-escolar – de 0 a 3 anos – moradoras do distrito urbano de Longhua, em Shenzhen, na China. Os cientistas identificaram uma ligação clara entre a frequência e a duração das atividades ao ar livre na primeira infância e a redução dos sintomas de ansiedade.
“O estudo traz dados alarmantes: crianças com exposição mínima a ambientes externos têm risco triplicado de desenvolver sintomas ansiosos em idade pré-escolar”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, professor da USP, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, autor de Você Pode Amar e Ser Feliz, dentre outros livros.
Os dados mostram que o tempo fora de casa aumenta a estimulação sensorial, a atividade física e o vínculo emocional. Os resultados são contundentes: bebês de 0 a 1 ano que participam de atividades ao ar livre menos de uma vez por semana apresentam risco 2,55 vezes maior de desenvolver sintomas de ansiedade na idade pré-escolar, comparados àqueles que têm atividades externas pelo menos sete vezes por semana. O mesmo ocorre quando essas crianças ficam menos de 30 minutos por período ao ar livre, com risco 1,62 vezes maior. Na faixa etária de 1 a 3 anos, crianças com menos de uma atividade externa semanal têm risco 3,10 vezes maior de desenvolver sintomas de ansiedade e aquelas com sessões inferiores a 30 minutos apresentam risco 2,07 vezes maior.
Segundo a pesquisa, contato com a natureza aumenta a estimulação sensorial, a atividade física e o vínculo emocional dos pequenos. Crédito: Divulgação.
Já é consenso que o contato com a natureza está intimamente ligado à saúde. Diversos estudos mostram que a exposição regular à natureza é associada a um aumento na atividade das células do nosso sistema imunológico. Esse contato reduz os níveis de cortisol, regula a frequência cardíaca e diminui a pressão arterial, além de oxigenar o cérebro e os pulmões. Mas esta é a primeira vez que um estudo mostra a relação direta da natureza com a saúde mental entre bebês e crianças em seus primeiros anos de vida.
“Não existe saúde sem saúde mental. Como psiquiatra, observo com preocupação a mudança drástica no estilo de vida infantil atual. Crianças passam cada vez mais tempo em ambientes fechados, expostas a telas e com rotinas altamente estruturadas. O estudo chinês traz dados alarmantes: crianças com exposição mínima a ambientes externos têm risco triplicado de desenvolver sintomas ansiosos em idade pré-escolar”, destaca o médico psiquiatra Rodolfo Damiano, professor da USP e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria. Crianças que crescem fechadas em apartamentos e condomínios têm mais probabilidade de desenvolver transtornos de ansiedade.
No caso de adolescentes, o quadro psicopatológico é agravado pela imersão digital, com o uso de smartphones, computadores e acesso a plataformas online como Discord e outras redes sociais. “O trágico falecimento da adolescente após participar do ‘desafio do desodorante’ transcende um mero caso isolado de imprudência juvenil. O episódio revela vulnerabilidades neuropsiquiátricas específicas dessa faixa etária. O cérebro adolescente encontra-se em fase crítica de maturação, o que os torna particularmente vulneráveis a mecanismos de recompensa social imediata, capacidade reduzida de avaliação de riscos em contextos de alta carga emocional e, sobretudo, busca por aceitação e pertencimento social”, alerta o psiquiatra Rodolfo Damiano, que tem visto, em suas clínicas em São Paulo e no Rio de Janeiro, um crescimento de pacientes nessa faixa etária e com esse perfil.
O estudo chinês, inédito pela abrangência da mostra e pela faixa etária, revela como a primeira infância é um período crítico, pois promove o desenvolvimento de circuitos neurais que governam a resposta ao estresse durante toda a fase da vida. Agora, pais e educadores, além das preocupações com a restrição de celulares e uso de telas, precisam incluir como dica de saúde mais brincadeiras ao ar livre aos pequenos. Afinal, natureza é saúde.
Clique aqui para ver o estudo:
https://bmcpsychiatry.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12888-025-06831-2
Sobre
o médico psiquiatra Rodolfo Damiano (CRM-SP 190.747 | RQE 95.585):
O cuidado pelo outro com excelência. Essa é a missão do
médico paulista Rodolfo Damiano, psiquiatra, palestrante, escritor, professor e
pesquisador. Com 32 anos e 6 livros publicados, aliando ciência e
humanidade, teoria e prática, diálogo franco e tecnologia, Rodolfo já
é referência, no Brasil e no exterior, em pesquisas nas áreas de ansiedade,
depressão, TDAH, Covid-19 e prevenção ao suicídio. Médico psiquiatra e
doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP),
pós-doutorando em Psiquiatria pela USP, em parceria com Yale University e Ohio
State University (EUA). É professor do programa de
pós-graduação do Instituto de Psiquiatria da USP, onde também coordena o
ambulatório de Depressão Resistente ao Tratamento, Autolesão e Suicidalidade. Editor associado do Brazilian Journal of Psychiatry. CEO da Soul Clinic, no Rio de Janeiro, centro de medicina
integrativa, e cofundador da Imensamente, plataforma de cursos em psiquiatria e
saúde mental. Autor de Você Pode Amar e Ser Feliz (DISRUPTalks, 2024) e Cansei
de Viver, e Agora? (Manole, 2024), e editor de Compreendendo o Suicídio
(Editora Manole, 2021), Spirituality, Religiousness and Health (Springer,
2020),
dentre outros. Voluntário da ONG
Fraternidade sem Fronteiras, tendo participado de missões em Manaus (AM) e
Madagascar e Malaui, na África. O amor transformando vidas, histórias e
trajetórias. E a felicidade, tema central de
seus estudos, a vitamina do corpo e da alma.
Instagram: @dr.rodolfodamiano
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