Dois mais dois é cinco na aritmética da política brasileira
- Categoria: Politica e Sociais
- Publicação: 13/06/2025 18:00
- Autor: Ricardo Lessa

O presidente da CBF é de Roraima. O presidente do Congresso é de Alagoas. O presidente do Senado é do Amapá. Só eu que acho estranho isso? Ou a população de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, as maiores concentrações não se sentem representadas?
Possivelmente pouco se importam, porque já deixaram de acreditar há muito tempo no Legislativo e outras organizações como a CBF e outras confederações que pouco prestam contas ao público em geral, ou seja, a nós, como tem verba garantida dos cofre públicos, ou seja, nosso dinheiro.
A lógica das democracias é, a princípio, representação da maioria. Cada cabeça um voto. É o que vale para eleger o Presidente da República no Brasil. Nas Conferações, vale cada Federação um voto. Ou seja a Federação de Roraima com seus 733,7 mil habitantes, com times que nunca sonharam em disputar a segunda divisão do Brasileirão, vai mandar na Confederação que organiza o campeonato com Corinthians e Flamengo.
Nas confederações sindicais é a mesma lógica, por isso nas Confederações Nacionais da Indústria e do Comércio, perpetuam-se presidentes, com orçamentos bilionários, sem nenhuma obrigação de prestar contas ao público, ou seja, nós, e gastar a seu bel prazer.
No Senado, graças ao Pacote de Abril de 1977, promulgado pelo General Ernesto Geisel, presidente do governo militar, a população de Roraima tem o mesmo número de senadores do que a de São Paulo e Minas, com poderem iguais ou maiores que os da Câmara dos Deputados, que tem uma proporcionalidade um pouco maior, ainda que distorcida, longe de espelhar o eleitorado nacional.
Essa é uma das fontes permanentes dos conflitos e do toma-lá-da-cá entre Executivo e Legislativo. Não falemos do Judiciário porque vivemos em tempos de assédio judicial, com jornalistas precisando recorrer a organizações estrangeiras por proteção dentro do Brasil.
A toda hora assistimos em rede nacional deputados de nomes estranhos e lugares remotos peitando, sem a menor cerimônia, o presidente eleito por 100 milhões de votos. Deveriam levar um crachá com suas votações: minguados 10, 15 mil votos, quando não guindados de suplências obscuras.
Resumindo, o eleitorado brasileiro é subrepresentado ou mesmo ignorado no Legislativo, teoricamente um das bases do regime republicano. Organizações que recebem boa parte do dinheiro público, as CBs e CNs, não dão satisfação à população de como o com quem gastam seus orçamentos.
Se os representantes desses estados menores ainda trouxesse benefícios correspondentes a seus cargos para suas populações, ainda poderíamos calar nossas bocas, sob o argumento de que assim é a Federação. Mas não é isso que acontece.
Brindado com a olímpica Presidência do Senado (o público deveria conhecer o tamanho do gabinete de trabalho), por décadas ocupada por Sarney e agora por Alcolumbre, o Amapá continua na rabeira nacional dos índices de desenvolvimento humano. A capital, Macapá, recebeu o desonroso título de capital brasileira com o maior índice de homicídios. O porto de Santana virou base do tráfico internacional.
Tudo por causa do desrespeito à lição básica da aritmética da democracia: cada cabeça um voto. E porque não se fala disso ou não se muda logo? Simples. Aqueles que se beneficiam do engodo não querem.
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