Desde 2018, Aline Alves viajava para a Amazônia, pesquisando, estudando, buscando, mas somente quando conheceu a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, ao pisar lá, sentiu algo maior.

Professora de aromaterapia e estudante de farmácia, quando Aline chegou pela primeira vez na RDS do Uatumã, seu objetivo era conhecer de perto o beneficiamento do breu e da copaíba para a cosmética.

Com sua visão sistêmica e inspirada pelos tours aromáticos da França e da Bulgária, notou na Amazônia um propósito diferenciado.

Percebeu que ali também existia um tour aromático e, a priori, ele já estava pronto! No entanto, só faltava ser visto com a sensibilidade certa.

Naquela época, a região vivia quase que exclusivamente do turismo de pesca esportiva, que ocorria apenas durante dois meses ao ano. Contudo, Aline percebia algo diferente: uma possibilidade para criar algo transformador.

Assim sendo, via a oportunidade de desenvolver um turismo que fosse além do sustentável: um turismo regenerativo, que devolve vida, dignidade e renda para quem mantém a floresta em pé.

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, na Amazônia

A saber, a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uatumã, na Amazônia, está localizada no estado do Amazonas, abrange 424 mil hectares e é o lar de 461 famílias em 22 comunidades ribeirinhas.

Entendendo o Turismo Regenerativo

No que diz respeito ao Turismo Regenerativo, ele propõe uma abordagem que vai além da sustentabilidade.

Essencialmente, ao invés de apenas mitigar impactos, ele busca restaurar, curar e enriquecer os destinos, tanto em seus ecossistemas quanto nas comunidades que os habitam.

Dentro desse cenário, em 2021, nasceu a Aura Amazônia com o propósito de conectar pessoas aos saberes da floresta, integrando ciência, ancestralidade e regeneração.

Consequentemente, criou-se o Tour Aromático da Amazônia, uma experiência em que os visitantes aprendem sobre óleos essenciais, plantas medicinais e manejo florestal, ao mesmo tempo em que contribuem diretamente para a economia local e fortalecem a autoestima das comunidades ribeirinhas.

De fato, na RDS do Uatumã, o engajamento comunitário é um pilar central, onde o turismo acompanha o fortalecimento do manejo e o protagonismo produtivo.

Atualmente, para as comunidades ribeirinhas da RDS do Uatumã, o turismo regenerativo é uma ferramenta relevante e significativa para geração de renda.

Comunidade São Francisco das Chagas do Caribi

No caso da Comunidade São Francisco das Chagas do Caribi, foi nesta comunidade que o turismo começou a florescer.

Hoje, quem visita a comunidade vive experiências, por exemplo, com Seu Josué, que conta lendas indígenas sob as árvores gigantes e Dona Elisângela, que conduz banhos de folhas curativas no rio.

Além disso, conhece a marcenaria familiar certificada, a feira local, participa de rodas de conversa com ribeirinhos e aprecia o artesanato local, produzido com tanto amor.

Acima de tudo, cada pessoa leva para casa não só um produto, mas a história viva de quem o fez.

Santa Luzia do Canaratuba – SAF do Pau Rosa

Nesse contexto, mais uma história que emociona é a visita à família guardiã do Pau Rosa, árvore ameaçada de extinção.

Afinal, conhecer Seu Aldemir, que passou de extrativista explorado para empresário da floresta, naturalmente, faz muitos chorarem.

Ele, por sua vez, recuperou o Pau Rosa e hoje faz manejo sustentável, sobretudo, beneficiando o óleo essencial que carrega em si a força da resistência amazônica.

Enseada e trilhas vivas

No que tange à Enseada e trilhas vivas, no começo, era apenas uma visita para ver copaíbas, breus e árvores centenárias. Gradualmente, a trilha se expandiu até a comunidade da Enseada.

Além disso, cada árvore ganhou uma plaquinha com seu nome, e mais importante, com a história de como aquela planta fez parte da vida dos comunitários que ali cresceram. Adicionalmente, foram colocados bancos na floresta, para meditar e contemplar em silêncio.

Assim, as pessoas deixam de apenas estudar a Amazônia na teoria e passam a vivê-la na prática.

Comunidade Livramento

Quanto à Comunidade Livramento, desde o 5º Tour Aromático, ela foi inserida no roteiro.

Lá, há rodas de conversa com os comunitários, defumação de ervas medicinais e artefatos indígenas que contam memórias de séculos.

O barqueiro Lazinho: Um símbolo de transformação

A propósito, Aline não pode deixar de falar do Lazinho, o barqueiro que a acompanhou desde antes mesmo do primeiro tour. Ele, aliás, sempre esteve presente, dias antes, ajudando a planejar, observando cada detalhe.

Com o tempo, foi se aprimorando, desenvolvendo a maneira de falar sobre os rios, os veios, as histórias das águas.

Para o conforto dos turistas, Lazinho construiu uma escada para facilitar a subida em seu barco, instalou mesas e cadeiras para a comodidade de todos.

Recentemente, adquiriu um plano de internet para o barco, algo transgressor para quem vive no coração da floresta.

Em suma, resultados conquistados por meio do do turismo regenerativo, que trouxe renda, movimento e novos sonhos para ele e sua família”, diz Aline Alves, sócia-fundadora e diretora operacional da Aura Amazônia.

A Pousada Mirante do Uatumã

No que se refere à Pousada Mirante do Uatumã, seu proprietário conhecido pelo apelido Papa, ao ser procurado por Aline para apresentar sua proposta de turismo no local, recebeu sua ideia de braços abertos.
Com efeito, visionário, filósofo, empreendedor e muito afetuoso, ele naturalmente cocria com Aline, colaborando com sua sabedoria sempre que necessário.

Atualmente, a pousada garante rotatividade não só nos meses de pesca, mas também fora da sazonalidade.

De fato, parte do roteiro turístico proposto por Aline foi construído junto com Papa, logo, promovendo a regeneração da Pousada Mirante do Uatumã.

Crescimento regenerativo

Dentro desse contexto, de duas comunidades, o roteiro foi expandido e mais famílias se envolveram.

Sendo assim, hoje, com 13 Tours Aromáticos programados até o fim de 2025, já são 6 comunidades ribeirinhas e mais de 30 famílias diretamente beneficiadas.

Desse modo, a economia gira, mas não é só sobre dinheiro – é sobre dignidade, conhecimento, protagonismo e floresta em pé.

Aline Alves: O que a move

O que mais a motivou foi ver que a floresta tinha tudo para ser uma escola viva. E, além disso, que seus guardiões poderiam ensinar o que jamais aprendemos em livros.

Cinco anos depois, Aline Alves olha para trás e vê que ainda é pouco diante do que sonha. No entanto, esse pouco já mudou vidas, histórias e garantiu que muitas árvores continuem de pé.

“Em conclusão, esse é o turismo regenerativo que eu sonhei e que hoje é real. E, ainda assim, estamos só no começo”, conclui Aline Alves.

Para saber mais sobre o Tour Aromático da Amazônia, acesse: www.auraamazonia.com.br

Instagram: @alinev.alves

Fotos: Aura Amazônia / Soul ESGS / Divulgação