Um futuro do passado
- Categoria: Geral
- Publicação: 18/07/2025 10:48
- Autor: Ricardo Lessa

Um futuro do passado
Nos anos 50, uma revista em quadrinhos previa um futuro muito distante quando uma neve tóxica cobriria a Terra. Cadáveres eram abandonados pelas ruas e carros transformados em ferro velho. A história foi adaptada agora para o seriado "O Eternauta", com Ricardo Darín de herói, disponível no Netflix.
As imagens filmadas de dentro de janelas precárias, nos apartamentos, garagens e escolas da periferia pobre de uma cidade argentina, sem os habituais efeitos especiais hollywoodianos, nos causam uma incômoda sensação de proximidade da anunciada catástrofe climática.
Os Darth Vaders e Lex Luthors no comando mundial não parecem se importar muito. Quem sabe o apocalipse aconteça e seja assistido pela maior audiência já registrada em todas as telas do mundo. As salas de cinema continuam lotadas por espectadores hipnotizados pelas histórias que se passam no caos planetário.
Os vilões criados pelas histórias em quadrinhos pareciam mais inteligentes do que os que assistimos atualmente nos noticiários. No caso de "O Eternauta", como no de tantos outros, o Mal consegue uma legião de seguidores que seguem suas ordens cegamente, como robôs.
Lamentavelmente, isso não se passa só na ficção e mesmo a tragédia climática não chega a ser uma grande novidade. Para se ter ideia do que acontece no mundo durante um desastre climático não é necessário ir ao cinema. Basta ler a história ou olhar no YouTube.
O ano de 1816 é considerado o ano sem verão na Europa, Ásia e Estados Unidos. O vulcão Tambora, na Indonésia, portanto do outro lado do planeta, entrou em erupção em abril de 1815. As cinzas do vulcão se espalharam pela atmosfera de todo o Hemisfério Norte e levaram anos para se dispersar.
Europeus e americanos que esperavam que o verão chegasse como de costume, no final de junho, foram surpreendidos por neve e gelo. Os camponeses não tiveram colheitas naquele ano. Faltou comida nas cidades. Bandos de famélicos atacavam lojas e tudo que podia ser devorado.
Depois que todo o gado foi consumido na Europa, os cavalos foram sacrificados. Sem os animais que conduziam as carruagens pelas ruas, o alemão Karl von Drais inventou em 1817 um veículo de madeira com uma selim sobre duas rodas, a primeira bicicleta.
Intelectuais ingleses entediados pela falta dos passeios habituais de verão, inventavam jogos para passar tempo numa casa à beira do lago de Genebra na Suíça. Um das apostas foi que todos escrevessem um livro de terror, motivado pelos dias inesperadamente sombrios.
Na época, em que as notícias vinham por navio, a causa da mudança do clima era desconhecida pela maioria. E ainda era objeto de discussão pelos mais ilustrados. Não faltaram profetas que previam o fim do mundo e procissões religiosas pelas ruas.
Aquela aposta entre os intelectuais resultou no livro Frankenstein, escrito pela jovem Mary Shelley, então com 20 anos. Imagens de terror não faltaram para inspirá-la com multidões em busca de comida nas cidades, cenas de violência produzidas pelo desespero, saques de residências, cadáveres apodrecendo nas ruas, carruagens abandonadas nas ruas.
O Eternauta, mesmo com seus besouros gigantes devoradores de gente, não é tão aterrorizante. Num cenário de crise climática, não haverá Darín que dê conta de salvar a população terrestre, nem Mary Shelley para contar sua história. Tampouco foguete suficiente para carregar gente para Marte.
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