Análise do filme: Incubus
INCUBUS: O FILME MAIS AMALDIÇOADO DA HISTÓRIA
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 21/07/2025 15:54
- Autor: Marcus Hemerly

“Quem
me dera ouvir de alguém a voz humana. Que confessasse não um pecado, mas uma
infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia...”
Poema
em linha reta. Fernando Pessoa.
Quando
se observa a evolução das ciências cinematográficas de uma forma linear,
verifica-se - e assim ocorre com a maioria das manifestações artísticas - um
reflexo dos medos e crueldades da própria sociedade, os quais apenas alteram sua
formatação a partir de cada estrutura organizacional e cultural de um povo. Nos
anos de guerra fria, a dita ameaça vermelha era tratada de forma simbólica em
meio aos filmes de ficção científica ou de espionagem; o medo universal do
sobrenatural, era replicado a partir de histórias de possessões demoníacas e
assombrações. Na contemporaneidade, os suspenses psicológicos subdivididos numa
multitude de subgêneros, conseguem focar nas dimensões mais humanas do mal,
seja a partir da violência estilizada ou pela demonstração de que, não raro, o
ser humano, através de ações e pensamentos, traduz o próprio horror, assim
como, o de outrem.
Muitos
são os relatos envolvendo misteriosas intercorrências quando da produção de
filmes que serviram-se da temática sobrenatural, pontuando os mais populares
como os títulos “O exorcista (1973)”, “A Profecia (1976)” traduzidas em mortes
e acontecimentos mirabolantes – incluindo incêndios - em sets de
filmagens. E, dentre esse rol, como tema central dessa abordagem, o menos
conhecido Incubus, de 1966, com direção de Leslie Stevens. Quanto a
trama, do site filmow, colhe-se a seguinte sinopse: “Numa estranha
ilha por espíritos e demônios, um homem luta contra
as forças do mal. Um jovem demônio, encarnado na figura de uma mulher nova e
bonita, sente-se apaixonado por um honrado soldado. A irmã mais velha da jovem,
também um demônio, ultrajada pela relação abjeta, convoca as forças do poder
maligno do irmão primogênito, um demônio ainda mais feroz que irá brutalizar a
irmã do soldado”. A partir nessa premissa, desdobra-se, nos seus 78
minutos, um flerte entre a reiterada e revisitada luta entre os extremos do bem
e mal, todavia, sob um viés que gravita em torno do humano e metafísico.
Objetivando
coroar a maior de todas as profanações às formas de bondade, a succubus
Kia pretende seduzir Marc, vivido pelo excelente William Shatner, no entanto,
curvando-se ao inesperado e inarredável amor por sua pretensa vítima, a legião
de outros demônios, aviltados, travam uma incursão maléfica contra o soldado
virtuoso que apetece a entidade, interpretada por Allyson Ames. A alegoria mantida
pelo suspense constante, quase palpável, desenha as feições oníricas e de
alucinação que elevam a história a um nível extremo de desconforto ao
espectador. Falado no idioma esperanto, que contribui para a aura surreal que
se reproduz, Incubus, constitui uma película em tom lúgubre e, que em muito se
assimila ao cinema existencialista do sueco Ingmar Bergman. Com os olhos
voltados à tela, parece que a qualquer momento, contemplaremos a figura de
Antonius Block, (Max Von Sydow), jogando xadrez com a morte, em meio às
cinzentas brumas marítimas e reflexões sobre a vida, em alusão ao celebrado O
sétimo Selo, (1957).
O
filme amealhou, merecidamente, a fama de a produção mais amaldiçoada de todas.
Além de sequestros, mortes não naturais, suicídios, bancarrotas financeiras e
demais acontecimentos funestos envolvendo seus participantes, na fase de pré e
pós produção, os copiões originais foram destruídos por um incêndio, permanecendo
perdidos durante vários anos. A história
de amor proibido e (maldito?) da succubus pelo jovem, apenas seria
redescoberta a partir da localização de uma cópia na Cinémathèque Française de
Paris, e posteriormente legendada em francês com distribuição para home vídeo
no ano de 2001. Atualmente, com a gradual extinção das mídias físicas, a obra
pode ser apreciada em alguns sites exclusivos de streaming e por meio do
you tube, em ótima resolução. Nos anos seguintes desde a sua realização, a
despeito do constante monopólio de Hollywood, concentrando mais de cinquenta
por cento da produção mundial de terror, o gênero teve suas diversas abordagens
e vieses bem explorados por todos os continentes.
A
despeito do teor mais comercial assimilado pelo cinema contemporâneo,
casuisticamente, deparamo-nos com produções que remontam a esse estilo mais
artesanal de suspense, de desdobramentos quase teatrais e despidos dos modernos
efeitos especiais. Cite-se a nova adaptação de Suspiria, baseada no clássico de
Dario Argento, que reveste-se de suas próprias peculiaridades numa nova
releitura não palatável a todos os públicos, mas que alinha um visual perturbador
a uma poderosa forma de fazer cinema, próximo ao body horror. Se, de um lado, existem correntes que apregoam
o cinema mudo como a mais pura e real mostra da sétima arte, de outro lado,
numa abordagem menos radical, é possível verificar que todo tempo é fértil às
boas ideias, e que o terror, o qual também emana da dicotomia humana, suas
mazelas e dúvidas, é coadjuvante até mesmo à existência. Afinal, nada mais
metafísico de que o homem como ser complexo, pois, se o inferno são os outros,
este se inicia com o próprio indivíduo.
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