João Daniel Tikhomiroff (Mixer Films) debate a longevidade das séries infantis no Serie_Lab Festival 2025
Diretor de Mundo da Lua aponta ausência de janelas para o público jovem e alerta para perda de referências culturais.
- Categoria: Séries
- Publicação: 01/08/2025 20:51

Ontem, 30 de julho, o palco Mercado da
Cinemateca Brasileira recebeu um dos painéis mais aguardados da 9ª edição do
Serie_Lab Festival 2025: o debate “Como uma série infantil não envelhece
junto ao seu público?”. A discussão reuniu alguns dos principais nomes da
produção de séries infantis no Brasil para refletir sobre os fatores que
contribuem para a longevidade dessas obras e sua capacidade de se manterem
relevantes com o passar do tempo.
Entre os participantes esteve João
Daniel Tikhomiroff, cineasta e presidente da Mixer Films, que assina a direção
artística da nova temporada de Mundo da Lua (TV Cultura). Em sua fala,
Tikhomiroff ressaltou a importância de valorizar a produção infantojuvenil no
Brasil e criticou a escassez de espaços dedicados ao gênero: “A falta de
janelas que existe no mercado para o público infantojuvenil me preocupa como
formação para as próximas gerações, de referências brasileiras de cultura, de
comportamento.”
Ele também destacou a força desse
conteúdo nas plataformas digitais: “Reforço que a gente tem que olhar de
novo para o público infantil juvenil. Por exemplo, você pega as plataformas de
streaming, você vê sempre no Top 10, os três primeiros colocados são infantis.”
E concluiu: “Acho que temos talentos excelentes nessa área, mas precisam
abrir novas janelas.”
Também participaram da mesa Beth
Carmona (consultora e gestora de projetos voltados ao público infantojuvenil e
integrante da equipe de gestão da TV Cultura), Gabriel Ferraz (coordenador de
Conteúdo Infantil & Filmes da Globo), e Nigel Goodman (roteirista de Irmão
do Jorel e Acorda, Carlo!). A mediação ficou por conta da roteirista
Ana Pacheco, roteirista-chefe da nova temporada de Detetives do Prédio Azul
(Gloob).
Nigel Goodman observou que a queda na
produção brasileira voltada a esse público também traz riscos ao setor criativo
como um todo: “Deu uma sumida de um tempo pra cá [as produções brasileiras
infantojuvenis], e isso preocupa porque se perde um pouco as referências
culturais brasileiras. E mesmo pessoas de mercado… se a gente não se preocupa
em manter como incentivo à cultura, a gente perde bons ilustradores, bons
animadores, porque eles vão fazer outras coisas.”
Gabriel Ferraz compartilhou os
bastidores da longevidade de Detetives do Prédio Azul: “Um dos
grandes desafios de séries protagonizadas por crianças é que elas crescem, e
para a série continuar, o elenco precisa ser renovado.” Ele explicou que a
série conseguiu se reinventar por meio de spinoffs, vlogs, podcasts e até uma
versão animada, o DPA Mini: “A gente precisa lembrar que, além de
renovar a série em si, o público também vai se renovando. Então não pensamos
somente nas histórias, mas também em nova direção e outras formas de olhar para
o mesmo universo.”
Beth Carmona enfatizou o papel das
produções brasileiras na construção da identidade cultural das crianças: “A
gente entende a necessidade da criança brasileira de se conectar com a história
que tem a ver com a realidade dela. E também de se conhecerem. Da criança do
Norte conhecer a criança do Sul.” Ela também destacou os efeitos positivos
das leis de incentivo: “Acho que a Lei Paulo Gustavo e a Aldir Blanc estão
revelando talentos brasileiros maravilhosos — roteiristas, diretores. Estamos
recebendo muitos projetos com foco infantojuvenil por causa desses incentivos.”
Criado em 2017 pelos roteiristas
Gustavo Coltri e Vana Medeiros, o Serie_Lab Festival é um dos principais
encontros do mercado audiovisual brasileiro, promovendo a troca de experiências
entre roteiristas, diretores, produtores e gestores criativos. A edição de 2025
conta com parceria da Cinemateca Brasileira e da Sociedade Amigos da
Cinemateca, apoio do Projeto Paradiso e patrocínio da Spcine e da Audible.
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