Análise do filme O Exterminador do Futuro (1984)
Direção: James Cameron
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 31/08/2025 18:04
- Autor: Rauny Moreira

EXTERMINADOR DO FUTURO: A MAIOR OBRA PRIMA DE JAMES CAMERON
O Exterminador do Futuro é frequentemente associado como um dos principais filmes de ficção científica da história do cinema. Por que? Será que ele é tudo isso mesmo? No roteiro assinado por James Cameron e Gale Anne Hurd sobre uma máquina antropomórfica (andróide) que volta no tempo para dar fim à mãe do líder da resistência humana, o que brilha de verdade é o subtexto. Seus dilemas sociais, estigmas, assim como o contexto no qual ele foi produzido.
Na trama, T800, o exterminador interpretado por Arnold Schwarzenegger, sabe apenas o nome do seu alvo e a cidade que Sarah Connor, nossa querida Linda Hamilton, vivia. No caso, Los Angeles. Mas de qual Los Angeles estamos falando? Como era L.A no começo dos anos 80? Qual a dinâmica entre os personagens na cidade californiana e ensolarada que o espectador pode esperar? Como a Skynet, a Inteligência Artificial e grande vilã da franquia, surgiu? Quais foram as bases desse sentimento negativo, desesperançoso e distópico que tornaram possível essa obra prima Sci-Fi?
Influenciado pelo medo de um sonho onde uma criatura metálica o perseguia entre chamas, Cameron insere em seu roteiro parte de um receio antigo que assola o mundo antes mesmo da criação do cinema. A primeira revolução industrial lá no século XIX já impactava a vida de milhões de pessoas na Europa, fazendo muitos perderem seus empregos pela eficácia na produção e sobretudo, na velocidade. Nós reagimos com estranheza ao novo, somos, por sobrevivência, adoradores do conservadorismo. Temos isso em nosso código genético, herdamos isso, poupamos energia pois nossos antepassados conviveram com a escassez.
O capitalismo superou tal condição, tornando agora a comodidade uma companheira cotidiana do homen moderno.
O advento da energia elétrica, dos eletrodomésticos, dos computadores enormes. Tudo facilitando a vida, gradualmente, fomos nos cercando de máquinas que revolucionaram nossas relações com o mundo. Inicialmente assustadoras, as máquinas viraram nossas amigas, e o que era novo, moldando um novo século XX, otimista, panfletário e utópico.
E nesse contexto, ainda sem internet mas com tudo orquestrado para em breve termos a rede mundial de computadores, tudo mudou. Os anos 80 dos Estados Unidos foram marcados pelo auge do consumismo desenfreado mas já revelava decadência do subúrbio e áreas abastadas. A política interna e o mercado exterior sufocados em pessimismo e fugacidade. Verdade ou não, James Cameron, de um pesadelo, trouxe um real e contemporâneo medo capaz de tirar nosso sono de forma mais arrasadora que Freddy Krueger de outro filme lançado no mesmo ano.
Entender Exterminador do Futuro dentro desse contexto faz toda a diferença. L.A era ao mesmo tempo auspiciosa e marginal. Cameron destaca isso no tom sujo e noturno no primeiro ato, com o vilão, a máquina futurista, trajando a roupa de punks. Uma escolha que incute inconscientemente no espectador a rebeldia, a chegada do novo que não aceita aquele status quo. Schwarzenegger é implacável como um movimento político, como o novo que esmaga o velho pisando na grama da primeira Sarah Connor suburbana. Ele elimina seu alvo sem pestanejar exatamente onde se vendia segurança.
Sarah Connor, a grande protagonista, é membro da classe trabalhadora. Uma simples garçonete e isso não é de propósito. A fragilidade não só física de uma simples mulher tentando sobreviver é espelho de sua posição social. Quem mais sofre com revoluções industriais e do trabalho? Quem sempre perde o emprego diante de uma novidade que promete ser eficiente, que não precisa comer e simplesmente não para sequer para conversar? Uma máquina. Exatamente o seu algoz, pronto para cumprir sua missão.
Kyle Reese é um igual, não só na humanidade mas na posição que ocupa. Um soldado, que são nada mais que os peões das guerras. A massa que sangra em prol de ideais incertos de velhos covardes demais para sentarem e resolverem tudo na tão sonhada civilização. Kyle é descartável, ele sabe que é um caminho sem volta. Esse arco dramático é o grande elo que liga o destino humano em perspectiva de rebeldia culminando no guerreiro que será John algum dia.
O segundo ato é explanação, nós entendemos tudo e a forma natural como concedemos o medo é sentido pela descrença da polícia, dos meios de repressão. Uma delegacia sucumbe diante do punk vestido de couro assolando aqueles em quem a sociedade confiaria. E da forma mais fácil, inicia uma perseguição marcada na boate technoir, imprimindo também o tom que homenageia elementos do cinema noir em detrimento do neon, do laser. Uma novidade na pistola que mira a testa da personagem de Linda Hamilton em vermelho.
O terceiro ato escalona o conflito e descaracteriza o vilão de sua casca humana. Agora a máquina em estado bruto persegue nossos sobreviventes até uma área industrial, quem diria. Em um injusto duelo que mata Reese numa tentativa de pôr fim àquilo com uma bomba caseira. Um artifício artesanal. Representando a criatividade humana e último respiro diante agora do que os rodeia. A alta tecnologia, um labirinto de metal que funciona sem nossa presença. Uma fábrica de automação apontando sempre para onde? O futuro.
Curiosamente, é se arrastando que Sarah e T800 terminam esse encontro. Ela, num gesto simbólico de extrema simplicidade, mostra com um simples apertar de botão como eu e você fazemos em nossas casas para ligarmos a luz, como nós ainda estamos no controle. Foi preciso da ação orgânica e voluntária, capaz de decidir numa fração de segundos, como seria o fim do vilão de liga de titânio. Ainda há esperança. Brad Fiedel embala a trilha que no final, diferente do início que mostra escombros, conduz Sarah para uma tempestade no meio de uma paisagem árida e deserta. Uma estrada pavimentada, a ação humana mais uma vez no sentido do embate que, como sabemos, não terminaria alí.
No elenco também tem Michael Biehn, Lance Henriksen, Bill Paxton, Earl Boen, Franco Columbu, Bess Motta, William Wisher Jr., Paul Winfield, Brian Thompson
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