Bolsonarismo sem JB?
- Categoria: Politica e Sociais
- Publicação: 14/09/2025 21:20
- Autor: Rodrigo Botelho Campos - economista

As recentes decisões do STF marcaram a história do Brasil. Nunca antes na história do país oficiais generais e um ex Presidente da República foram julgados e sentenciados em nosso país por tentativa de golpe de Estado.
As implicações serão múltiplas. Quero me deter no impacto no processo político-ideológico-eleitoral.
JB lidera o movimento bolsonarista que tem frentes diversas de atuação: nos aparelhos de Estado, nos níveis federal, estadual e municipal, com simpatizantes e aliados nos executivos, nos parlamentos e nas instâncias do poder judiciário. Chama atenção a presença forte nas Forças Armadas e nas polícias dos diversos tipos. Na sociedade civil tem base popular, que lhe elegeu presidente, além de governadores, prefeitos e parlamentares aliados.
Na seara político-eleitoral o movimento bolsonarista tem no PL - Partido Liberal seu principal vetor de atuação, mas não se restringe a este partido. Executivos e parlamentares nos três níveis, em diversos partidos, o apoiam. Contraditoriamente há setores de partidos que tem membros em funções de Estado, particularmente no parlamento federal, que apoiam JB, mas outros setores destes mesmos partidos ocupam cargos no governo federal comandado por Lula. O presidencialismo de coalização e o pragmatismo do “Centrão”explicam esta dubiedade.
O que unifica tantos agentes em tantos partidos e fora dos partidos? A ideologia liberal/conservadora da maioria , o protofascismo e o neofascismo de muitos, conformando um campo político que vai além dos partidos, que usualmente chamamos de direita.
O bolsonarismo sobreviverá à prevista prisão de seu líder maior, JB?
Adolf Hitler tentou um golpe de Estado em 1923, o chamado “putsch de Munique”, foi preso, cumpriu a pena, consolidou o partido nazista, voltou ao poder, deu um auto golpe e o resto todos sabemos…
São contextos históricos diferentes, mas é um precedente de trajetória que demonstra a possibilidade. Há um contexto internacional da chamada “Nova Guerra Fria” que retroalimenta a polarização direita X esquerda, haja vista o apoio que beira à incredulidade do atual presidente americano pressionando, chantageando e implantando sanções econômicas via tarifas de importação sobre o Brasil, por conta de sua aliança político-ideológica com JB.
O bolsonarismo, para 2026, fará um cálculo político pensando em sua sobrevida: lançar uma candidatura à presidência genuína ou apoiará algum aliado? O nome “Bolsonaro” é um patrimônio político, que qualquer especialista de marketing atestaria. Ter o nome na urna me parece estratégico para este grupo, lançando a esposa ou um dos filhos.
O campo político de direita sofre fissuras, por contradições de projeto e postura, mas também por pragmatismo. Setores querem se distanciar do bolsonarismo para se diferenciar, avaliando o impacto do desgaste do vínculo a um ex presidente cujo governo teve péssimos indicadores e, agora, com seus líderes sentenciados pelo STF. Direita sim, mas nem tanto. Aliás, a direita brasileira sempre se camuflou usando o rótulo de centro, num estratagema para não ser associada à ditadura militar de longos e tenebrosos 21 anos.
Este campo busca uma alternativa para disputar 2026. Aguardou o resultado do STF e decidirão, primeiro, se procurarão concentrar num nome ou lançarão várias candidaturas para se reagruparem num eventual segundo turno. Acho pouco provável a concentração, pois há muitos interesses contraditórios. Isto resolve no processo eleitoral com uma das candidatura se destacando das demais e indo para o segundo turno. Pode hegemonizar desde o primeiro turno levando a que um ou outro candidato possa retirar a candidatura. Pouco provável, porém, é uma unificação desde já, pois uma disputa tem várias razões, e uma delas é ter o “puxador de votos” para ajudar a eleger governadores e parlamentares de seu partido, federação e/ou coligação.
Tarcisio Freitas, atual governador de São Paulo, aliado de JB é tratado como um possível candidato que seria do núcleo de poder do bolsonarismo. Será? Zema, atual governador de Minas, idem. Será? São até “solidários no câncer”, mas também agem para tentarem não se confundir com o “genocida da COVID”. O bolsonarismo precisa preservar a identidade para sobreviver. Se deixará diluir apoiando candidaturas não genuínas?
Um aspecto que se levará em conta é a capacidade de Lula se reeleger. Isto pode determinar se Tarcísio, aparentemente com reeleição assegurada, correrá o risco de ficar sem mandato, disputando e perdendo a disputa presidencial. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, sugere há algum tempo que Tarcísio ganhe musculatura se reelegendo para um segundo mandato e dispute em 2030, já sem Lula na urna.
Enfim, a derrota de JB na última eleição presidencial não acabou com o bolsonarismo e a prisão dele não determinará o fim deste movimento de ultra direita no curto prazo.
Vamos adiante, lutando!