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Análise "O Fantasma do Paraiso" (1974)

Mascaras Guitarras e Sintetizadores
  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 09/10/2025 23:21
  • Autor: Bruno Sereno

O Fantasma da Ópera é uma história essencial para o cinema. Consagrado como um dos monstros clássicos da Universal, o livro de Gaston Leroux já ganhou versões de diretores talentosos como Dario Argento e Dwight H. Little, e seus temas atemporais como obsessão, paixão e música foram explorados em diferentes gêneros, de dramas a slashers e um icônico musical da Broadway.

O Fantasma do Paraíso é uma releitura desta clássica história, dirigida pelo lendário Brian De Palma em um de seus primeiros longas, antes de clássicos como Carrie, a Estranha e Scarface. O filme é estrelado por Jessica Harper, a lendária atriz de Suspiria, em seu primeiro grande papel no cinema.

A história foca no talentoso e azarado compositor Winslow Leach, que tem a obra de sua vida, uma cantata rock inteira baseada no clássico Fausto, roubada na cara dura pelo poderoso e maligno produtor Swan. O vilão quer usar a música de Winslow para inaugurar seu novo palácio da música, O Paraíso. Tentando recuperar o que é seu, Winslow acaba sendo traído e sofre um acidente bizarro que desfigura seu rosto. Transformado no Fantasma, ele passa a assombrar o Paraíso, determinado a se vingar de Swan, mas também obcecado em transformar a jovem cantora Phoenix na grande estrela que ele sabe que ela pode ser, não importa o que aconteça.

O filme brilha principalmente em seu tom, pegando todo o drama gótico da obra original e adaptando-o magistralmente para o universo neon dos anos 70. Toda a trilha sonora (sendo esta uma das primeiras e mais ousadas tentativas de transformar a história em um musical) é recheada de solos de guitarra e sintetizadores. Isso poderia deixar o filme datado, mas, pelo contrário, a obra se torna uma cápsula do tempo dos anos 70: excitante, brilhante e energizante.

Toda história baseada em O Fantasma da Ópera brilha pelo visual de seu fantasma, e nesta não é diferente. Na primeira metade do filme, vemos o personagem em sua forma humana, antes do acidente. Isso poderia tornar o início entediante, mas a direção é hábil ao mostrar traços de sua personalidade que já indicam o monstro em que ele vai se transformar. Quando a transformação acontece, seu visual único torna a revelação muito mais satisfatória. É impossível discutir o que Winslow se torna sem falar de sua voz. Seu acidente destrói completamente suas cordas vocais, então ele só consegue se comunicar através de um sintetizador conectado ao sistema de som do teatro, o que torna sua voz um elemento extremamente único e chamativo, diferenciando-o de qualquer outra releitura do personagem.

A personagem de Jessica Harper, Phoenix, é uma interpretação superinteressante do tropo criado por Christine na obra original. A jovem pura e obcecada pela música dá espaço para uma personagem determinada, com objetivos claros e camadas que são reveladas aos poucos, surpreendendo tanto os personagens quanto a audiência. Sua primeira apresentação no Paraíso é uma cena marcante, com uma música que vai deixar você assobiando por semanas.

O antagonista, Swan, acaba sendo a parte mais fraca desta obra. Apesar da atuação marcante do músico Paul Williams, seu pouco tempo de tela leva a diálogos extremamente expositivos e a uma história de fundo confusa, embora com implicações sombrias e intrigantes.

Se você é fã de O Fantasma da Ópera, assista sem medo a O Fantasma do Paraíso. Todos os elementos familiares estão lá: o acidente no teatro (que neste filme não envolve um lustre, mas sim uma solução extremamente criativa), a obsessão do Fantasma e um triângulo amoroso convincente, mas tudo isso com um charmoso toque de Rock 'n' Roll que destaca esta história em meio a tantas outras de músicos mascarados..