Análise Setembro 5
- Categoria: Critica de Filmes
- Publicação: 25/01/2025 01:01
- Autor: Luís Vinicius Melione

O filme ‘Setembro 5’ transporta os espectadores para dentro de uma sala de controle de TV em 1972, onde as emissoras da ABC Sports enfrentam uma crise sem precedentes: homens armados do grupo militante palestino Setembro Negro infiltraram-se na Vila Olímpica de Munique, mataram dois membros da equipe atlética israelense e fizeram outros nove reféns. Mais de cinquenta anos se passaram desde esse evento, e para o público mais jovem pode ser difícil imaginar um mundo onde coberturas ao vivo não eram comuns. No entanto, o filme consegue recriar a tensão e a loucura do momento com um olhar renovado, transportando os espectadores para o epicentro da crise. Essa abordagem imersiva é uma conquista notável, ainda que ‘Setembro 5’ peque ao negligenciar o contexto histórico e político do incidente, tratando-o mais como uma lição sobre a ética na mídia do que como um retrato completo da tragédia.
Nunca antes um evento havia sido televisionado de forma tão abrangente e em tempo real. O filme captura com precisão a novidade e os desafios que isso trouxe. O mundo inteiro podia assistir a certos aspectos da crise ao vivo, mas isso significava também que os sequestradores podiam usar as transmissões para adaptar suas táticas e amplificar seu teatro político para uma audiência de mais de um bilhão de pessoas. O coração do filme é a atuação de John Magaro como Geoffrey Mason, produtor da ABC News. Magaro transmite com intensidade a pressão de tomar decisões que poderiam significar vida ou morte, seja para os reféns ou para os envolvidos na cobertura. Mason não é apenas o centro operacional da narrativa; ele se torna um guia moral para seus colegas, lidando com dilemas éticos e emocionais em um ambiente onde cada escolha é carregada de consequências.
A obra também funciona como um retrato do nascimento das notícias ao vivo como entretenimento. A tragédia de Munique marcou o início de uma tendência que, infelizmente, culminou na degradação ética das notícias modernas, frequentemente reduzidas a opiniões sensacionalistas em vez de reportagens aprofundadas. Essa perspectiva histórica adiciona uma camada de melancolia ao filme, que, apesar de não abordar todas as implicações do evento, provoca reflexões sobre o papel da mídia em situações de crise. Em suma, ‘Setembro 5’ é um filme poderoso, que captura a intensidade de um momento histórico único e oferece uma crítica pertinente sobre a evolução da mídia. Apesar de suas limitações em explorar profundamente o contexto político, ele brilha ao retratar a ética jornalística em seu ponto de ruptura.
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