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DICA DE FILME: COLEGAS (2013)

Um filme que traz um novo olhar da pessoa com a Síndrome de Down
  • Categoria: Cinema
  • Publicação: 25/01/2025 21:57
  • Autor: Crystian Felipe Godoy

Muito antes de Marcos Mion estrelar seu primeiro longa no cinema, que usa a ficção para tratar de um tema cada vez mais real na nossa sociedade atual – o autismo –, decidi trazer uma análise futuramente sobre o filme MMA: Meu Melhor Amigo aqui no site para vocês, queridos leitores. Mas, por hoje, optei por falar sobre uma obra que foi responsável por pavimentar, de certa forma, o caminho para a chegada de temas de inclusão no nosso cinema nacional. Trata-se do filme Colegas, que já vinha cumprindo esse papel – e muito bem, por sinal – desde 2013, ano de seu lançamento.

Colegas é um filme que aborda, de forma inocente e poética, as coisas simples da vida através dos olhos de três jovens com síndrome de Down: Stalone, Aninha e Márcio.

O longa está carregado de referências ao cinema, algo que já se percebe pelo nome de um dos protagonistas. Além disso, o que inspira os nossos heróis a embarcarem na aventura que acompanhamos durante o filme é justamente outro clássico do cinema: Thelma & Louise (1991).

A premissa que envolve os três jovens é bem melancólica e solitária. Eles só se tornaram colegas por uma infelicidade do destino: ou seus familiares morreram, ou foram abandonados à própria sorte. O caminho dos aventureiros se cruza em uma casa de apoio para pessoas com síndrome de Down.

Todo o enredo é narrado pela voz de Lima Duarte, que interpreta Arlindo, o jardineiro da casa. Inclusive, é no automóvel deste jardineiro – um Karmann-Ghia – que os três fogem rumo à liberdade, em busca de realizar um sonho bastante singelo: ver o mar.

A partir daí, temos um verdadeiro espetáculo. Os protagonistas invadem lojas, bares e restaurantes, e "brincam" de assaltar, como viam nos filmes. Essa brincadeira os leva até Buenos Aires, onde acabam sendo capturados pela polícia local.

A trilha sonora é outro destaque desse filme – um verdadeiro tributo ao nosso "Maluco Beleza", Raul Seixas. Stalone, Aninha e Márcio são grandes fãs do cantor. Há, inclusive, um momento em que eles entram de penetras em um show de um cover do Raul, o que me surpreendeu bastante.

Outro ponto que me chamou a atenção foi o desenvolvimento do par romântico entre Stalone e Aninha. O sonho de Aninha é se casar e, em meio à fuga, o trio encontra tempo para realizar uma cerimônia de forma bastante informal. Eles celebram essa união, o que leva a outra surpresa: uma sequência com uma cena de amor entre Stalone e Aninha. Esse foi um ato muito corajoso do filme, pois a sexualidade das pessoas com deficiência já era um tabu na época de lançamento – e continua sendo ainda hoje.

O filme também nos presenteia com a chegada dos aventureiros à praia, um momento simbólico que representa a liberdade tão citada ao longo da história. É impossível não se emocionar com a cena em que Aninha liberta um passarinho preso em uma gaiola.

A forma leve como Colegas retrata a socialização das pessoas com síndrome de Down, além de abordar os preconceitos sem fragilidades, é admirável. O bom humor permeia boa parte do filme, tornando-o ainda mais envolvente.

E não é apenas nas referências cinematográficas que Colegas brilha. Mais uma vez, destaco a trilha sonora, que inclui uma versão adaptada em inglês de "Asa Branca" – intitulada White Wings – na voz de Raul Seixas.

Quanto ao cinema, há uma cena hilária que faz referência a Norman Bates, do clássico de horror Psicose.

Colegas é feliz em tudo o que se propõe, especialmente pela criatividade e ousadia de sua direção, que foi, sem dúvida, muito à frente do seu tempo. É mais um orgulho para a história audiovisual brasileira!

Ah, e o filme Colegas está disponível no catálogo da Netflix.