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BOND, JAMES BOND

  • Categoria: Cinema
  • Publicação: 15/05/2025 00:39
  • Autor: Luís Vinícius Melione

Poucos personagens do cinema são tão cultuados quanto James Bond. Após 62 anos e 25 superproduções oficiais que redefiniram os filmes de ação, o herói continua tão vital e vibrante quanto sempre foi. E, talvez o mais importante: hoje faz mais sucesso que nunca nas bilheteiras. Mas essa longa trajetória nas telas se mostrou uma saga quase tão cheia de meandros quanto as missões que 007 empreendia em nome da coroa britânica e envolveu desavenças entre atores e produtores, fortunas ganhas e perdidas, traições entre parceiros, processos judiciais e até a concorrência entre diferentes versões do personagem.

O ESPIÃO

O inglês Ian Fleming sempre acreditou que o espião de sua série de livros de aventura renderia ótimos filmes ou, ao menos, um bom seriado de TV. O tempo provaria que ele estava certo, mas inicialmente não foi fácil convencer os executivos das emissoras e estudios. James Bond surgiu no livro Cassino Royale, lançado por Fleming em 1953, que baseou o mundo de seu espião em suas próprias experiências, já que fora oficial da inteligência naval durante a Segunda Guerra Mundial. Bond era membro da seção 00 do serviço secreto, o que significava que tinha permissão de seus superiores para matar inimigos de acordo com seus próprios critérios. Repletas de violência, mulheres fatais e inimigos terríveis, as aventuras de Bond renderam 12 romances e duas coletâneas dos nove contos escritos por Fleming e publicados até 1966.

Confiante no potencial de Bond, Fleming por diversas vezes tentou achar parceiros que compartilhassem sua visão e pudessem ajudá-lo a levar Bond para as telas. A primeira versão live-action do personagem surgiu na TV ainda em 1954 — após a publicação de Cassino Royale nos Estados Unidos, a rede CBS comprou os direitos para uma adaptação da trama para seu programa Climax Mystery Theater. Mesmo com alguns detalhes mudados — Bond (interpretado pelo ator Barry Nelson) era norte-americano e chamado de Jimmy, por exemplo —, Fleming acreditava ser questão de tempo para que seu personagem ganhasse um seriado regular de TV. Mas não foi o que aconteceu. Até houve conversas nesse sentido com produtores de TV, ao mesmo tempo que Fleming também tentava convencer cineastas, mas as intenções do escritor continuariam frustradas por mais alguns anos.

Para ajudar no processo, Fleming se aliou ao roteirista irlandês Kevin McClory, que foi coautor de Chantagem Atômica, uma história original de Bond focada para o cinema – a trama mostra o roubo de armas nucleares por uma organização criminosa chamada Spectre. Quando os planos de levar essa história para as telas não se realizaram, Fleming aproveitou para lançá-la em formato de livro – algo que não foi bem visto por McClory, que processou Fleming por plágio e acabou ganhando na justiça parte dos direitos sobre a trama e seus elementos.

Em 1960, Charles K. Feldman, um produtor ligado à Columbia Pictures, comprou os direitos de adaptação de Cassino Royale para o cinema em 1960, mas os deixou guardados por muito tempo, sem interesse real em transformar a história em filme. Tudo mudaria quando os produtores Harry Saltzman e Albert R. Broccoli mostraram interesse em James Bond.

007 NO CINEMA

O canadense Harry Saltzman começava a ficar famoso como um produtor de filmes sérios, como A Saia de Ferro (1956), estrelado por Bob Hope e Katherine Hepburn, e Paixão Proibida (1959), com Richard Burton. De olho no interesse do público por Bond – a popularidade do agente secreto aumentou quando o presidente dos Estados Unidos, John Kennedy, elogiou os livros de 007 – Saltzman procurou Fleming em 1961 e comprou os direitos para levar o espião ao cinema.

Mas, como dois raios às vezes podem cair no mesmo lugar, logo em seguida Fleming foi procurado também por outro produtor, Albert Broccoli, responsável por filmes como O Espadachim Negro (1954), com Alan Ladd, e a aventura de ficção anticomunista, O Monstro do Raio Gama (1956). Ao descobrir que Saltzman chegara antes dele, Broccoli procurou o outro produtor e propôs que dividissem os custos dos filmes de Bond, como sócios. O acordo foi aceito e a dupla criou uma empresa chamada Danjaq com uma subsidiária formada exclusivamente para produzir os filmes do espião, a Eon Productions – Eon era uma sigla para Everything or Nothing (Tudo ou Nada). A dupla fechou um contrato com a United Artists, um dos estúdios de cinema mais conceituados da época, para a distribuição dos filmes mundo afora.

O primeiro desafio foi encontrar um ator apropriado para o personagem. Fleming via Bond como um sujeito normal, não muito bonito ou de aparência interessante. Segundo seu criador, Bond era o tipo de sujeito comum a quem aconteciam coisas incomuns. Por isso, pensava em alguém como David Niven ou talvez Richard Burton para o papel. Mas Broccoli queria alguém mais musculoso de aparência perigosa.

O escolhido foi o escocês Sean Connery, na época com 30 anos. Halterofilista e ator, ele já havia trabalhado em um filme da Disney, A Lenda dos Anões Mágicos, e interpretara um vilão em A Maior Aventura de Tarzan, ambos de 1959. E mesmo que Connery já tivesse uma calvície galopante, os produtores conseguiram esconder o problema com uma discreta peruca.

O livro escolhido para se tornar a base para o primeiro filme de Bond foi O Satânico Dr. No, que teve direção do eficiente Terence Young e trazia a bela atriz suíça Ursula Andress como a primeira Bond girl do cinema, a corajosa Honey Ryder – sua imagem saindo do mar em um biquíni branco conquistou o mundo. O papel do vilão ficou a cargo do veterano Joseph Wiseman, que se transformou em oriental graças à magia da maquiagem.

Em sua estreia no cinema, 007 é enviado à Jamaica para investigar o desaparecimento de um companheiro do MI-6. Lá, conhece Felix Leiter, um agente da CIA, e descobre que o outro agente britânico foi morto enquanto investigava o Dr. Julius No, membro da Spectre, organização que planeja sabotar o programa espacial americano. Ao lado de Honey Ryder, Bond atrapalha os planos do vilão e destrói seu quartel-general. O filme custou US$ 1 milhão, valor modesto para a época, e arrecadou US$ 56 milhões. Ficou claro que Bond era um sucesso capaz de deixar todos os envolvidos várias vezes milionários.

MISSÕES BEM-SUCEDIDAS

O contrato que Connery assinara era para cinco filmes e, depois de Dr. No, os outros quatro vieram em rápida sucessão. O segundo filme da franquia foi Moscou contra 007 (1963), no qual a Spectre tenta matar Bond para se vingar da morte do Dr. No. A confiança dos produtores era tão grande que os créditos finais traziam o texto “James Bond retornará em Goldfinger”, uma tradição que durou décadas e sempre anunciava o título da próxima aventura do personagem.

007 contra Goldfinger (1964) realmente foi o filme seguinte e nele o espião impede um ataque ao reservatório de ouro no Fort Knox. Por motivos legais, Saltzman e Broccoli tiveram que se aliar a Kevin McClory para a quarta aventura, 007 contra a Chantagem Atômica (1965), no qual Bond novamente confronta a Spectre que, dessa vez, roubou duas bombas atômicas. Com 007 Só Se Vive Duas Vezes (1967) leva Bond ao Japão para investigar o sequestro de cápsulas espaciais americanas e russas, apenas para descobrir que é tudo um plano (adivinhe!) da Spectre e de seu líder, Ernst Stravo Blofeld, com quem o espião fica cara a cara pela primeira vez.

Todos os filmes foram sucessos de bilheteira e juntos renderam cerca de US$ 456 milhões, uma verdadeira fortuna para aquele período. Goldfinger, então, foi um fenômeno. O filme, considerado a produção que definiu a fórmula de James Bond nas telas (ação, humor, equipamentos e carros especiais, apelo sexual e frases de efeito) custou US$ 3 milhões e rendeu US$ 124,9. O sucesso foi tanto que o filme foi exibido nos cinemas de Londres 24 horas por dia nas semanas iniciais do lançamento, para dar conta da demanda. Infelizmente, Fleming não viu esse sucesso todo, pois faleceu em agosto de 1964, aos 56 anos, antes do terceiro filme chegar às telas.

Em 1967, de olho no sucesso de 007, Charles K. Feldman finalmente lançou sua versão de Bond, a comédia Cassino Royale, estrelada por David Niven como um 007 aposentado que volta à ação ao lado de vários agentes que se fazem passar por ele. Apesar das filmagens complicadas, o envolvimento de vários diretores, um roteiro confuso e alto orçamento (US$ 12 milhões), o filme foi um sucesso, com bilheteria de US$ 41,7 milhões.

Financeiramente, Sean Connery tinha se dado bem com a série produzida por Saltzman e Connery. Seu salário para Dr. No foi de US$ 100 mil, mas em Só se Vive Duas Vezes o ator já embolsava US$ 800 mil, mais participação nos lucros. Mesmo assim, ele estava cansado do personagem e ao final de seu contrato, abandonou a série. Os produtores tentaram convencer o ator a rever sua decisão, mas como Connery se mostrou irredutível, logo entraram em ação para achar um substituto. Após alguns convites que deram em nada, o escolhido foi o modelo australiano George Lazenby, que estrelou 007 - A Serviço Secreto de Sua Majestade, em 1969.

A trama traz Bond novamente às voltas com a Spectre e Blofeld, que planeja destruir a agricultura mundial se não receber um alto valor de resgate. Durante a missão, Bond se casa com a mocinha do filme, apenas para vê-la assassinada pouco depois. Lazenby não foi muito bem recebido pelo público e o filme não fez o sucesso esperado: com orçamento de US$ 7 milhões, arrecadou “apenas” US$ 64,6 milhões. Preocupado que James Bond fosse um personagem antiquado demais e que não se encaixaria bem à tão liberal década de 1970, Lazenby resolveu que não estava mais interessado em continuar na série e abandonou o papel.

Para salvar a franquia, a dupla de produtores e a United Artists resolveram trazer Connery para mais uma aventura a qualquer preço – no caso, um salário de US$ 1,2 milhão e mais 12,5% da arrecadação na bilheteria. Na história de 007 – Os Diamantes São Eternos, um Bond um tanto acima do peso e com uma peruca mais óbvia que nunca enfrenta outro plano da Spectre e de Blofeld que envolve o roubo de pedras preciosas na África. Com um custo parecido com o do filme anterior, o filme rendeu quase o dobro, US$ 116 milhões. Broccoli e Saltzman tentaram convencer Connery a continuar no papel, mas desta vez afirmou que nunca mais interpretaria Bond. Era hora de procurar um novo 007, que agradasse ao público logo de cara.

UM NOVO BOND

O novo Bond foi um ator que já havia sido considerado antes para o papel, mas estava ocupado com outros trabalhos. Roger Moore, o inglês que já tinha interpretado diversos heróis na TV em seriados de ação como Ivanhoé, O Santo, Persuaders e Maverick, estreou como o espião favorito da coroa britânica em Com 007 Viva e Deixe Morrer (1973). Dessa vez, Bond enfrenta um perigo mais realista na figura de Mr. Big, um traficante de drogas que tem a seu dispor um exército de capangas, além de estar envolvido com a máfia e um culto vudu – bem, talvez o perigo não fosse tão realista assim.

O diretor Guy Hamilton, responsável pelo maior sucesso da série até então, Goldfinger, foi chamado para ajudar a moldar a nova versão de Moore e mostrá-lo mais durão – a imagem do ator, em seus papéis anteriores, era mais de um aristocrata suave que de um espião secreto violento. Mesmo que não tenha resultado em um dos melhores filmes de James Bond, a estratégia deu certo: com orçamento de US$ 7 milhões, o longa rendeu quase US$ 162 milhões. Estava provado: o público havia definitivamente aceitado Moore como o espião.

Mas as coisas mudariam com o filme seguinte. 007 Contra o Homem da Pistola de Ouro (1974), também dirigido por Hamilton, tinha uma trama mais prosaica, na qual o herói enfrenta Scaramanga (Christopher Lee), um assassino contratado para matá-lo, e investiga o roubo de uma arma movida a energia solar. A recepção do filme foi mais fria, tanto por parte da crítica quanto do público, que deixou “apenas” US$ 97,6 milhões nas bilheteiras. Desapontado com os resultados, Harry Saltzman decidiu terminar seu envolvimento com a franquia e vendeu sua parte dos direitos a Albert R. Broccoli. Este ainda acreditava no interesse do público por Bond, mas também achava que a recepção ao último filme era um sinal de que era hora de reformular os filmes do espião.

Houve um hiato de três anos até o lançamento do próximo filme, que se mostraria um enorme sucesso. 007 - O Espião que me Amava (1977) era uma aventura grandiosa, que teve um custo de US$ 14 milhões e até a consultoria informal do cineasta Stanley Kubrick (de Laranja Mecânica e Dr. Fantástico), que indicou ao diretor Lewis Gilbert a melhor maneira de iluminar alguns acontecimentos cenográficos dos vilões. Na trama, Bond investiga o desaparecimento de alguns submarinos nucleares e descobre, com a ajuda de uma espiã russa, que um milionário louco planeja iniciar uma guerra para destruir o mundo e criar uma nova civilização em cidades submersas. Com incríveis cenas de ação e Roger Moore melhor que nunca no papel, o filme rendeu US$ 184 milhões, a maior bilheteria da série até então.

BOND VERSUS BOND

O contrato que Roger Moore assinou era para apenas três filmes, mas com o sucesso de O Espião que me Amava, Broccoli não queria que o ator saísse do papel e, assim, tentou fazer com que Moore se compromete-se a fazer outros filmes. O ator não aceitou ficar preso a um contrato longo e preferia negociar sua participação a cada filme. Dessa maneira, ele estrelou mais quatro filmes como Bond, com salários que chegaram até a US$ 5 milhões por produção.

Em O Espião que me Amava, os créditos finais anunciavam que Bond voltaria em Somente para Seus Olhos, mas o sucesso de Star Wars no mesmo ano inspirou Broccoli a produzir uma aventura devesse Bond ao espaço e a produção seguinte foi 007 contra o Foguete da Morte (1979). Ali, o espião investiga as ações de um milionário que pretende destruir a humanidade com uma estação orbital que criou. A seguir veio finalmente a vez de 007 - Somente para seus Olhos (1981), provavelmente a aventura mais séria estrelada por Moore, que envolvia um sistema de controle de mísseis roubado e trazia um prólogo no qual Bond mata Blofeld.

O próximo filme, 007 contra Octopussy (1983), mostrava Bond em missão na Índia e na Alemanha, onde precisa impedir um atentado nuclear. O filme tinha um ritmo frenético que parecia influenciado por Caçadores da Arca Perdida, que fora sucesso dois anos antes. No último filme de Moore no papel, 007 na Mira dos Assassinos (1985), o espião enfrenta um milionário que pretende destruir o Vale do Silício nos Estados Unidos para controlar a produção de microchips. Juntos, esses quatro filmes renderam um total de US$ 741 milhões e mostraram que Bond continuava um favorito das plateias do mundo todo.

Quem também ainda acreditava muito no apelo de Bond era o roteirista Kevin McClory que, anos antes, criara a história de 007 contra a Chantagem Atômica com Ian Fleming na intenção de transformar a trama em filme e, por meio de um processo judicial, conseguira manter parte dos direitos sobre a aventura e seus elementos, como a Spectre e o vilão Blofeld. Com financiamento da Warner Bros., ele conseguiu contratar Sean Connery pelo salário de US$ 3 milhões (mais participação na bilheteria) para interpretar Bond em uma refilmagem de Chantagem Atômica, chamada Nunca Mais Outra Vez e lançada em 1983. O título era uma brincadeira com a promessa de Connery, feita mais de uma década antes, de que nunca mais faria o papel do espião.

Com direção de Irvin Kershner (O Império Contra-Ataca, Robocop 2), o filme custou US$ 36 milhões e rendeu US$ 160 milhões. Mesmo assim, “perdeu” na preferência popular para Octopussy, que foi lançado quatro meses antes e rendeu US$ 183 milhões.

LICENÇA PARA MATAR

O próximo ator a encarnar Bond foi o galês Timothy Dalton. Broccoli e Saltzman já haviam oferecido o papel do espião a ele quando Connery anunciara sua saída em 1967, mas o ator (na época conhecido por filmes como O Leão do Inverno) recusou a oferta porque tinha cerca de 22 anos e se considerava jovem demais para o papel. Mas em 1986 ele aceitou o salário de US$ 3 milhões para encarnar Bond em 007 Marcado para a Morte, no qual o agente impede o início de uma guerra mundial planejada por uma organização de traficantes de armas. Ao custo de US$ 40 milhões, o filme rendeu US$ 191 milhões ao redor do mundo.

O filme seguinte, 007 - Licença para Matar (1989), era uma aventura atípica, na qual Bond procura vingança contra traficantes de drogas que mataram seu amigo Felix Leiter. Com orçamento de US$ 36 milhões, o filme rendeu US$ 156 milhões, mas não foi elogiado nem pela crítica e nem pelo público. Dalton deveria ter estrelado um terceiro filme como Bond, mas uma série de processos litigiosos impediu a produção. A United Artists havia passado por problemas de caixa no início da década de 1980 e foi parcialmente comprada pela Metro-Goldwyn-Mayer. Ao final de 1989, a MGM foi comprada pela empresa franco-italiana Pathé que, para tentar fazer caixa rapidamente, tentou vender os direitos dos filmes de Bond para redes de TV no mundo todo por valores muito baixos, o que ia contra o acordo inicial entre Broccoli e a United Artists, feito em 1962. O resultado da demora para um acordo entre as partes foi que o contrato de Dalton expirou.

Quem tentou se aproveitar da situação novamente foi Kevin McClory. Ainda detentor dos direitos da história de Chantagem Atômica, o produtor anunciou em 1992 que produziria uma nova versão da história, intitulada Warhead 2000, a ser produzida pela Sony Pictures. McClory chegou até a contratar Timothy Dalton para repetir o papel de Bond, mas seus planos foram por água abaixo quando a MGM abriu um processo judicial para impedir a produção. A Sony e a MGM acabaram fazendo um acordo fora dos tribunais e a produção foi cancelada.

 

BOND MODERNO

Irlandês como Sean Connery, o ator Pierce Brosnan conheceu os produtores dos filmes de James Bond em 1980, aos 27 anos, quando sua esposa teve um pequeno papel em 007 - Somente para Seus Olhos. Broccoli nunca esqueceu o ator, pois achou que ele poderia ser um bom James Bond no futuro, e ofereceu o papel a ele depois que Roger Moore abandonou o personagem em 1985. Mas, como Brosnan tinha um contrato com a série de TV Remington Steele (Jogo Duplo, no Brasil) não pôde aceitar o convite. Porém, a situação era diferente em 1994 e Broccoli, junto com sua filha Barbara - agora a produtora oficial dos filmes de Bond - ofereceram novamente a ele o papel em um filme que pretendia modernizar o espião.

007 contra GoldenEye, lançado em 1995, realmente trouxe uma série de inovações aos filmes de James Bond. M, chefe do herói desde os filmes da década de 1960 e sempre interpretado por homens, passou a ser uma mulher (a renomada atriz Judi Dench). O filme estreou em novembro e iniciou uma nova tradição de lançar as aventuras de 007 próximas ao final do ano - desde os anos 1970, os filmes estreavam no meio do ano, para aproveitar o verão nos Estados Unidos e na Inglaterra. O próprio Brosnan foi visto como uma imagem mais moderna de Bond, uma mistura do ar aristocrático de Roger Moore e o estilo durão de Connery.

A trama, até simples, mandava Bond à Russia para reaver os controles de um perigoso satélite militar, roubados por um sindicato do crime e por um agente inglês renegado. O filme agradou ao público, carente de uma aventura de Bond por quase sete anos, e arrecadou US$ 352 milhões, frente a um orçamento de US$ 58 milhões. Bond estava de volta, em grande estilo. Albert Broccoli viveu o bastante apenas para ver o personagem retomar seu sucesso e faleceu em 1996, com 87 anos. Seu antigo parceiro, Harry Saltzman, já tinha partido em 1994, aos 78 anos.

Brosnan havia assinado um contrato para três filmes com opção para um quarto e eles foram produzidos nos anos seguintes: 007: O Amanhã Nunca Morre (1997), 007: O Mundo Não é o Bastante (1999) e 007: Um Outro Dia para Morrer (2002). Eram outros tempos e os filmes precisavam ser mais caros e vistosos para competir com as grandes produções de ação e aventura produzidas por Hollywood. Assim, cada um desses filmes custou entre US$ 110 e US$ 140 milhões, mas suas arrecadações foram bem satisfatórias: ao todo, os três novas missões de Bond renderam mais de US$ 1.125 bilhões nas bilheterias. O mais bem sucedido foi Um Outro Dia para Morrer, que comemorou os 40 anos da franquia na tela e teve bilheteira de US$ 432 milhões. Outra estratégia que os produtores abraçaram foi o merchandising: marcas famosas como a vodka Smirnoff e a BMW começaram a pagar fortunas para que Bond usasse seus produtos na tela.

Foi um período lucrativo para todos os envolvidos, inclusive para Brosnan, que recebeu um total de US$ 40 milhões para estrelar os quatro filmes. Mas sua desistência do papel fez com que os produtores, mais uma vez, tivessem que sair atrás de outro ator para encarnar 007.

UMA NOVA ORIGEM

Em 1997, a Sony Pictures anunciou que fizera um acordo com Kevin McClory (ele de novo!) para ter acesso à sua parte sobre os direitos de Bond e, como o estúdio já era dono da trama de Cassino Royale (por ter adquirido os direitos sobre o filme que a Columbia produziria em 1967), anunciou que produziria sua própria série paralela de filmes para o espião. Novamente, a MGM não gostou nada da ideia e processou a Sony para impedi-la. O processo se estendeu até 2004 quando, em uma curiosa reviravolta, a Sony comprou 20% da MGM. Agora, as duas empresas eram de um mesmo grupo, o que facilitou um acordo para que a Sony se tornasse a distribuidora dos novos filmes. A parte dos direitos que pertencia ao frustrado McClory novamente foi deixada de lado e a MGM decidiu por um reinício para a franquia em 2006, com um retorno às bases do personagem, a começar com uma nova adaptação da primeira aventura literária de Bond.

Com roteiro dos elogiados Neal Purvis, Robert Wade e Paul Haggis (esse último oscarizado por Menina de Ouro e Crash), 007: Cassino Royale foi lançado em 2006 e contava a “origem” de James Bond — sua entrada para a seção 00 do MI-6 e sua primeira missão com a licença para matar. Seguindo a visão original de Ian Fleming, o espião voltava a ser um homem brutal e nem tão bonito. Para dar vida a esse novo Bond, foi escolhido o inglês Daniel Craig, que trabalhara em Lara Croft: Tomb Raider e Munique, de Steven Spielberg.

A escolha inicialmente não agradou aos fãs, que acharam o loiro Craig muito diferente da imagem que tinham do herói e fizeram até campanhas na internet para que os produtores reconsiderassem a escolha. Mas Craig calou a todos quando se mostrou um ótimo James Bond, em um filme que trouxe uma visão mais realista e violenta do espião. Na trama, Bond atua em várias frentes: tanto contra uma organização terrorista, quanto enfrenta o vilão Le Chiffre num jogo de pôquer no cassino do título para conquistar seus recursos financeiros e impedir que financie operações criminosas.

Dos filmes anteriores, sobrou apenas Judi Dench como a sempre séria M. Com algumas das melhores sequências de ação da história da franquia, o filme custou US$ 150 milhões e rendeu US$ 599 milhões nas bilheterias mundiais. Quatro dias após a estreia do filme, o produtor e roteirista Kevin McClory que, por anos, tentara explorar o personagem, faleceu aos 80 anos.

O filme seguinte estrelado por Craig não se saiu tão bem quanto o anterior. A trama de 007: Quantum of Solace (2008) era centrada na procura de Bond por vingança contra os inimigos que enfrentara no filme anterior e a descoberta de uma poderosa organização criminosa, chamada Quantum — e que parecia uma tentativa dos produtores de substituir a Spectre, cujos direitos estavam presos agora aos herdeiros de Kevin McClory.

De qualquer maneira, Quantum of Solace se mostrou um tanto decepcionante, sem cenas de ação memoráveis e uma história pouco envolvente, que rendeu o filme mais curto (em minutos) da série. Ao custo de US$ 200 milhões, rendeu US$ 586 milhões nas bilheterias mundiais.

Muito melhor se sairia 007: Operação Skyfall, lançado em 2012, que explora a história progressiva de Bond e traz à tona alguns erros cometidos por M no passado. Dirigido por Sam Mendes (de Beleza Americana e Estrada para Perdição), o filme também aproveitava o cinquentenário da série nas telas e resgatava elementos da mitologia bondiana, como o Aston Martin que 007 dirigiu em vários filmes da década de 1960 e o ressurgimento do departamento Q que auxilia Bond nas missões. Emocionante e divertido, sem esquecer o lado sombrio e realista que marca essa nova encarnação de Bond, o filme custou US$ 200 milhões, o mesmo que a produção anterior, mas arrecadou impressionantes US$ 1.109 bilhão. Foi, de longe, o maior sucesso de franquia e ainda levou o Oscar de Melhor Canção Original.

O CÍRCULO SE COMPLETA

Em 2013, a MGM anunciou que finalmente comprara, dos herdeiros de Kevin McClory, os direitos cinematográficos restantes sobre James Bond, inclusive sobre aqueles elementos que o estúdio não pôde usar no passado, como a Spectre e Blofeld. Isso permitiu que voltassem ao universo do espião alguns dos pontos mais famosos de sua mitologia nas telas e que fascinavam os fãs antigos do personagem. Não demorou para que a MGM anunciasse que a próxima aventura de Bond envolveria exatamente a organização criminosa.

Agora, James Bond tinha a sua disposição todos os ingredientes que tornaram o herói tão interessante ao longo das décadas. O filme segue Bond enquanto ele investiga uma organização criminosa secreta chamada SPECTRE, liderada por Franz Oberhauser (Blofeld), que tem uma conexão pessoal com o passado de Bond. Grandioso e cheio de glamour, “007 Contra Spectre" arrecadou aproximadamente US$ 880,7 milhões mundialmente e venceu  o Oscar na categoria de Melhor Canção Original.

Seis anos depois, Daniel Craig anunciou seu último filme como James Bond, encerrando um ciclo de forma melancólica e sentimental com "007 - Sem Tempo Para Morrer". O filme aborda temas como sacrifício, lealdade e o legado de Bond. Há um foco maior nas emoções do personagem, trazendo um final dramático e épico para o arco de Daniel Craig, que culmina em um desfecho trágico, no qual Bond sacrifica sua própria vida para salvar a humanidade. "007 - Sem Tempo para Morrer" arrecadou cerca de US$ 774 milhões mundialmente e mais uma vez venceu na categoria de Melhor Canção Original com "No Time to Die".

 

James Bond é muito mais do que um simples personagem; ele é um ícone cultural que transcende o cinema. Desde a estreia de Dr. No em 1962, o espião britânico criado por Ian Fleming redefiniu o gênero de ação e espionagem, estabelecendo novos padrões para o estilo, a sofisticação e a narrativa. Com mais de seis décadas no cinema, a franquia continua a influenciar gerações de cineastas, fãs e a própria indústria cinematográfica. Se há algo que 007 provou, é que sempre será maior e mais longevo que qualquer um de seus intérpretes. Acima de tudo, uma certeza prevalece na indústria do entretenimento: James Bond retornará.