Notícias

Análise de "Lilo & Stitch (2025)"

Lilo & Stitch alcança a essência da obra original e destaca-se entre os live-actions da Disney
  • Categoria: Critica de Filmes
  • Publicação: 20/05/2025 20:15
  • Autor: Ana Paula Castro

Carisma dos protagonistas e relação de Lilo e Nani são os pontos mais altos da adaptação


Saindo logo após as inúmeras polêmicas que permearam o live-action de Branca de Neve, Lilo & Stitch tinha a difícil missão de convencer o público que ainda vale a pena ir ao cinema conferir as adaptações de animações que conquistaram tantos corações no passado. Em um cenário difícil como esse, com muito mais erros da Disney do que acertos nas produções live-action, Lilo & Stitch consegue se sobressair, mantendo a essência da trama em uma adaptação que (não se iluda) não é tão boa quanto a animação de 2002, mas consegue tanto emocionar quanto divertir.


Desde que a Disney começou a fazer versões live-actions de suas animações, o intuito ficou bem claro: garantir público ancorando-se na nostalgia de quem se apaixonou pelas obras originais. No entanto, um dos diferenciais de Lilo & Stitch em meio aos muitos erros e filmes esquecíveis que vieram com essa ideia, é que a produção dirigida por Dean Fleischer Camp consegue usar esse fator ao seu favor, em vez de enxergá-lo como demérito.


Isso ficou claro desde as campanhas de marketing, mostrando todo o empenho da equipe de produção em trazer uma versão realista do Stitch, porém com o mesmo carisma que o personagem tem na animação e com o visual o mais fiel possível, pois sem o Stitch perfeito dificilmente essa nostalgia seria despertada. Dado o sucesso dos produtos licenciados do alienígena até hoje, mais de 20 anos depois de sua estreia nos cinemas, seria indispensável manter o charme do personagem, tanto para lucrar com os produtos quanto para fazer o filme funcionar, já que ele é o ponto central da trama.


E deu muito certo! Stitch é realmente o que há de melhor no live-action, desde o visual até a movimentação que parece tão natural que quem assiste até esquece que se trata de CGI — embora ainda escapem poucos momentos em que se percebe a falta de “encaixe” dele com os demais personagens. Ao mesmo tempo, a produção conseguiu garantir que as expressões do protagonista atingissem o ponto perfeito, fazendo rir nas horas certas, emocionando nos momentos-chave da história e comunicando as intenções e sentimentos dele muitas vezes sem precisar de palavras.


Porém, é preciso admitir que muito do que Stitch tem de convincente deve-se à atuação dos personagens de carne e osso, especialmente a interpretação de Maia Kealoha como Lilo. A dublagem brasileira pode ter ajudado neste quesito, mas a jovem atriz é extremamente carismática, fofa e imperativa como a personagem pede. 


A relação de Lilo com Stitch se desenvolve com algumas pequenas diferenças em relação à animação, mas nada que tire o brilho da amizade que se constroi e se aprofunda aos poucos. Aliás, o live-action consegue transmitir bem as semelhanças entre os dois protagonistas e os pontos de identificação que os unem. Ainda que isso já existisse na animação, o longa de 2025 procura puxar mais esse aspecto do subtexto para a superfície.


Falando em mudanças, vale destacar as positivas. No novo Lilo & Stitch, Nani (Sydney Agudong), a irmã mais velha de Lilo, ganha um pouco mais de destaque, bem como sua relação com a personagem título. Na adaptação, o passado e o futuro de Nani são importantes para a trama. Da mesma forma, acompanhamos muito mais de perto o que está em jogo para Nani e tudo o que é exigido dela, não apenas de forma literal, mas considerando sua juventude, seus sonhos, ambições e vontades, o que dá mais profundidade para a personagem.


Outro ponto positivo é o aumento do núcleo de David (Kaipo Dudoit) com a personagem Tūtū, vivida por Amy Hill. Esbanjando o carisma e o deboche da terceira idade, a vizinha de Lilo e Nani é uma adição divertida para a trama e acaba sendo a “voz da razão” em muitos momentos.


O mesmo não se pode dizer sobre as mudanças de alguns personagens secundários que já existiam na animação, começando por Jumba (Zach Galifianakis) e Peakley (Billy Magnussen). A dinâmica diferente da dupla, mais apoiada na convivência forçada do que na missão de capturar Stitch, nem seria um problema por si só, mas acaba sendo afetada pela ausência de outro personagem, o Comandante Gantu. 


Na história original, o personagem é relevante no primeiro e no último arco. No live-action, sua ausência foi resolvida com um primeiro arco mais acelerado, ao ponto de ser perceptível a pressa em “virar essa página”. Já no terceiro, embora não prejudique em nada o momento-chave entre os protagonistas, ela acaba respingando no desenvolvimento de outros personagens, especialmente de Jumba.


Outra alteração que deve incomodar os fãs da animação de 2002 é o personagem Cobra Bubbles (Courtney B. Vance), que teve seu papel e desenvolvimento completamente alterados no live-action. Apesar desta mudança ser justificável no roteiro, o personagem pouco cativa e acaba mais “enchendo linguiça” do que de fato acrescentando algo para a história.


Ainda é válido destacar o visual dos alienígenas, que são quase réplicas do desenho. Isso é notável especialmente com Jumba, Peakley e a Grande Conselheira (Hannah Waddingham), apesar da textura um tanto “gelatinosa” da pele desses personagens, o que pode gerar certo incômodo. O visual do filme como um todo, porém, demonstra o excelente trabalho da direção de fotografia, especialmente nas cenas de surf.


Contudo, o aspecto mais importante de Lilo & Stitch, que foi tratado com muito carinho e cuidado na adaptação, é a “ohana”, a relação familiar. Tudo foi construído com maestria pela narrativa que, nesse sentido, respeitou bastante o material original. É muito fácil se emocionar em diversos momentos da história, que são bastante potencializados pelo carisma dos protagonistas e pela forma como a direção conduziu a interação de uma atriz mirim com um personagem CGI. 


A dinâmica da dupla se mantém impecável, cativando o espectador o suficiente para soltar algumas lágrimas, especialmente quem já era fã do desenho. Contudo, o filme claramente não foi feito apenas para este público e tem um potencial bem grande de ser sucesso também com as crianças, com um humor leve e uma história gostosa de assistir. Em resumo, uma ótima adaptação que mantém a essência do filme original, apesar das modificações, e destaca-se entre as produções live-action da Disney.


Lilo & Stitch estreia no dia 22 de maio nos cinemas brasileiros.


Assista ao trailer: https://www.youtube.com/watch?v=oLnS1Ij9-Kk ]