INSÓLITA – MUSEU & ANTIQUÁRIO – O CAPÍTULO FINAL DE UMA GALERIA DOS HORRORES (E ENCANTOS).
- Categoria: Literatura
- Publicação: 15/05/2025 22:27
- Autor: Marcus Hemerly

No
cenário literário mundial, as antologias, coletâneas de trabalhos coletivos,
seja em desdobramentos poéticos ou em prosa, vêm servindo de lastro ao
surgimento de novos talentos e alcance de público mais abrangente. De forma
recorrente, as publicações em participação conjunta se desvelam tanto em
formato de revistas, digital ou física, assim como em livros apetecíveis aos
olhos, pela leitura e qualidade gráfica, e ao tato. Certamente, o prazer do
contato físico com o livro jamais será relegado. Inclusive, as antigas
revistas de mistério, não raro, são lembradas com aconchegante sentimento
saudosista, ao passo que serviram de inspiração a subgéneros de suspense
extremamente populares aos amantes dos sustos e calafrios.
Inolvidável
lembrar da celebrada Ellery Queen's Mystery Magazine, intitulada a partir do
pseudônimo criado pelos autores Frederic Dannay e Manfred B. Lee desde os anos
vinte, nos Estados Unidos, especializada em ficção de mistério e crime. No
plano europeu, destacaram-se as tradicionais Mondadori, revistas pulp
italianas com primórdios ainda na era fascista, posteriormente migrando de
formato para os romances policiais e cinema. Inclusive, delineando as feições fundamentais
do subgênero conhecido por Giallo, (em italiano, amarelo e coloração das
revistas) e o Poliziotteschi.
A par
desse cenário, atualmente, o universo da produção artística conta com
imprescindível instrumento de financiamento coletivo, denominado Catarse, que
vem propiciando o deslanchar de vários projetos que outrora permaneceriam
“engavetados”. Nessa modalidade de aquisição, apoiador compra o livro, revista
ou mídia, antecipadamente, e a recebe após a ultimação das fases de editoração.
Caso o projeto não alcance a meta, ao apoiador é estornado o montante. Sempre
destacando a força do gênero policial, mistério, ficção de crime e outras
derivações, o Brasil frequentemente renova sua safra de autores trazendo à
baila textos de peculiaridades criativas que saem da vala comum, num ousar
atrativo aos amantes dos quebra-cabeças e enredos de fantasia, horror e
mistério.
Após o
sucesso das campanhas O Melhor do Crime Nacional V.2 e Contos do Boca do
Inferno, a Luva Editora traz uma nova proposta neste volume final da série
Insólita Museu & Antiquário. A fachada diz: "Insólita - Museu e
Antiquário". Um local em que se pode sentir o cheiro do tempo, repleto de
objetos peculiares. Como você nunca viu esse museu antes? Todos andam dizendo
que ele sempre esteve ali.
Mas há
algo estranho nos exemplares expostos nesse lugar. Uma cadeira de balanço, uma
máscara prateada, um amuleto que parece ser a pata seca de um macaco... E você
se lembra de já ter lido contos clássicos de terror sobre cada um deles?! A
grande pergunta é: como podem todos eles estarem concentrados nesse museu? Que
lugar é esse e que tipo de infortúnio os outros artefatos do antiquário podem
causar? Esse último livro da série Insólita te convida a, dessa vez, entrar no
museu mais assombrado do mundo e escolher, por conta própria, qual objeto vai
te assombrar.
Os três
primeiros volumes do Insólita Museu & Antiquário trouxeram traduções de
contos essenciais para o desenvolvimento de autores de Terror/Horror,
explorando objetos amaldiçoados que marcaram a literatura: A Pata do Macaco – W.W. Jacobs; A Máscara de
Prata – Hugh Walpole e A Cadeira de Balanço – Charlotte Perkins. Agora, no
volume final, 21 autores – entre destaques das edições anteriores,
organizadores e convidados – expandem ainda mais os limites do sobrenatural.
Cada um explora um objeto amaldiçoado de sua escolha, trazendo histórias ainda
mais sombrias e perturbadoras. O projeto promovido pela Luva Editora, com
organização das autoras e antologistas Fernanda Braite e Mizaki – O Narrador, ainda
conta com a participação especial do premiado escritor Oscar Nestarez.
Trabalhando
com a revelação de autores brasileiros, a casa editorial se especializou em
campanhas dos gêneros Terror e Policial por meio de dezenas de antologias,
entre elas os sucessos: O Melhor do Crime Nacional V.2, Os Contos do Boca do
Inferno, Urban, Terrores Latinos, Terrores Asiáticos (em parceria com a
Laboralivros) e as duas últimas edições de Insólita Museu e Antiquário (A
Máscara de Prata e A Cadeira de Balanço).
Gosta da
literatura brasileira e prestigia o autor nacional? Compartilhe com os amigos e
convide a conhecer o projeto. Ainda há tempo de adquirir seu exemplar! O
terceiro volume independe dos antecessores, mas aos interessados, existem
combos com promoções dos livros anteriores, além de recompensas especiais, além
de surpresas vinculadas a meta estenda.
Apoie no
link:
https://www.catarse.me/insolitafinal
Para
melhor conhecer a campanha e a editora que sempre protagoniza antologias
diferenciadas, seu Editor Chefe e escritor, Vitto Graziano, nos conta um pouco
sobre o processo de editoração.
O EDITOR.
VITTO GRAZIANO
1) Conte
um pouco de como foi sua trajetória no universo editorial, na condição de
autor, até a criação da Luva Editora.
A
trajetória da Luva eu classificaria como tudo, menos convencional. Fui um
leitor tardio, ainda que tenha crescido numa casa onde minha mãe era formada em
Letras. Só fui me interessar de verdade por leitura aos 18 anos, quando percebi
que talvez não tivesse o talento necessário para o desenho — minha grande
paixão até então. Pode parecer estranho, mas foi justamente a frustração com os
traços que me levou às palavras. Achei que escrever seria mais fácil. Não foi.
Descobri rapidamente que também não conseguia produzir nada minimamente
satisfatório. Mas desse engano — ou melhor, dessa ignorância — nasceu um prazer
até então desconhecido. Escrever passou a me encantar. Era dinâmico, me dava
liberdade criativa, e ao mesmo tempo me desafiava, principalmente por não poder
mais contar com o apoio da imagem para me expressar.
Então
veio o caminho óbvio: quer escrever bem? Precisa ler bem. E assim começou minha
saga devoradora de livros — risos.
Anos
depois, resolvi lançar meu primeiro livro na internet. Tive apenas uma leitora
fiel. Nem minha mãe conseguiu se interessar pela violência dos meus textos. Mas
havia a Rosa — minha “madrinha portuguesa”, como gosto de chamá-la. Apesar das
barreiras linguísticas, toda semana ela me pedia novos capítulos no Wattpad.
Foi com esse apoio que finalizei meu primeiro livro, e, com a ajuda dela,
consegui fazer a primeira tiragem de 100 exemplares.
Na mesma
época, fiz uma permuta com o revisor de uma grande agência de publicidade do
Rio. Eu cuidaria da arte do livro dele, e ele faria a revisão do meu. Juntos,
criamos um selo fictício para dar um ar mais profissional ao projeto. O
resultado ficou tão bom que começaram a me perguntar de onde era essa tal de
Luva e quanto ela cobrava para fazer livros. O lançamento foi um sucesso
inesperado — e, assim que recebi os valores, fiz questão de devolvê-los. Mas a
querida Rosa não aceitou. Pediu que eu repassasse adiante. Dessa atitude
generosa, além da Luva, nascia também a Incubadora de Sonhos.
2)
Encontra-se em Campanha no Catarse o volume final de uma série de antologias
denominada “Insólita - Museu e Antiquário", de onde partiu a ideia para o
projeto? Dentre as diversas coletâneas lançadas pela editora, existe alguma que
lhe dá orgulho especial?
Insólita
foi nossa primeira série de real sucesso. A ideia surgiu de uma dificuldade
pessoal: sempre tive certa resistência com leituras em língua estrangeira.
Apesar de me virar razoavelmente bem com o inglês, sentia falta de ter acesso a
textos clássicos traduzidos com qualidade e proximidade. Quis então trazer
essas obras fundamentais para os leitores brasileiros — especialmente para os
autores iniciantes. Afinal, só se escreve bem se houver boas leituras e boas
referências.
Somei
esse objetivo à ideia de um antiquário que vendesse objetos com propriedades
milagrosas, mas que exigissem alguma contrapartida. Foi assim que A Pata do
Macaco, de Jacobs, se tornou o primeiro item da coleção. Depois, por sugestão
da Júlia do Passo Ramalho — que coorganizou os três primeiros volumes —,
trouxemos A Máscara de Prata, do Walpole. Por fim, A Cadeira de Balanço, da
Charlotte Perkins Gilman, foi a escolha da Úrsula Antunes, coorganizadora dos
volumes 2 e 3.
Hoje
temos quatro volumes (incluindo o final). Embora tenha orgulho de todos, esse
último tem um sabor especial: abrimos as portas para que os autores criassem
objetos próprios, sem o limitador de um texto-base. O resultado tem sido uma
explosão de criatividade — e isso me deixa particularmente contente.
3) Atualmente, quais são os maiores desafios
para finalizar um projeto
editorial? Nos conte um pouco sobre as
fases de confecção de antologias e projetos solo.
O maior
desafio, sem dúvida, é o material humano. Um bom autor, para mim, é antes de
tudo um bom leitor. É alguém humilde, que reconhece estar em constante
aprendizado. A leitura — tanto de clássicos quanto de contemporâneos — é
essencial para entender os caminhos que se quer trilhar dentro da literatura.
Superada
essa etapa — que já é um filtro importante —, entramos na questão dos recursos.
Publicar literatura de gênero no Brasil, seja com apoio da editora, do autor ou
por meio de financiamento coletivo, é sempre uma empreitada difícil. Vivemos em
um país onde menos de 30% da população leu um livro inteiro no último ano. E,
mesmo entre esses leitores, os gêneros mais consumidos são o religioso e o de
autoajuda — amplamente promovidos por grandes conglomerados. A ficção, por sua
vez, muitas vezes acaba relegada a uma bolha que se retroalimenta.
Mas foi
dentro dessa bolha que a Luva nasceu, e é nela que continuo existindo como
autor e editor. Por isso, sou grato — mesmo sabendo que, a cada ano, a
competitividade cresce e o espaço nas plataformas de financiamento coletivo
diminui. Essas plataformas, como qualquer empresa, naturalmente destacam o que
traz mais público e retorno financeiro. Não as julgo por isso — é a lógica do
mercado. Mas essa realidade nos impõe o desafio de seguir insistindo e
inovando.
Quanto à
confecção em si, como comentei anteriormente, tudo começa com a escolha de um
tema-base que consiga atrair tanto autores quanto leitores. Antologias mais
amplas, sem temas rígidos — como O Melhor do Crime Nacional — tendem a alcançar
mais participantes, já que muitos escritores já possuem textos prontos ou
ideias pré-formuladas. Ainda assim, mesmo com essa barreira inicial, Insólita
conseguiu se manter relevante e consistente.
Após o
tema, passamos pela escolha dos jurados, abertura de concurso, recebimento e
seleção dos textos, até chegarmos à lista final de classificados. Só então
começa uma nova etapa: produzir o material temático, criar a campanha na
plataforma com textos e imagens exclusivos, e iniciar o aquecimento com os
autores para dar início à arrecadação e às lives.
Somente após a meta ser batida é que começa a fase de edição final, revisão e diagramação do projeto. Existe todo um fluxo editorial — e um trabalho em equipe com diversos profissionais — para que o seu livro preferido chegue, com qualidade, à sua estante.
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