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A marcha da desfaçatez

  • Categoria: Politica e Sociais
  • Publicação: 19/09/2025 21:13
  • Autor: Ricardo Lessa
Não estamos mais na era da insensatez, mas da desfaçatez. Para os mais jovens a palavra pode parecer antiquada. É sinônima de descaramento, despudor ou sem-vergonhice.
Esses tempos estranhos foram assim batizados pelo jornalista Hélio Campos Mello, a quem entrevistei, pela primeira vez junto com a filha Patrícia. A entrevista está disponível na ABI TV do Youtube.
Houve época em que os conservadores, a chamada direita, era menos despudorada, escreveu certa vez, sobre o mesmo fenômeno que vivemos, o jornalista Zuenir Ventura.
São tempos em que o presidente dos Estados Unidos partilha o noticiário com um rico cafetão, Jeffrey Epstein, condenado e morto na prisão em 2019, por traficar jovens meninas, para poderosos frequentadores de mansões e ilhas particulares.
Em raros momentos da história, a pornografia andou tão próxima da política.
Em seus pequenos e densos livros, o filósofo sul-coreano, radicado na Alemanha, Byung Chul-Han traça essa ligação dos políticos rasteiros e grosseiros, a estética lisa e autorreferente, o entretenimento ligeiro de satisfação rápida com os tempos da informação digital.
Um desejo estimulado e satisfeito quase automaticamente pelas mídias sociais, como um novo objeto de compra, que logo que adquirido, dá  lugar a um vazio, que gera ansiedade e mais um desejo, que segue em looping contínuo. Um conforto enganoso de se deixar levar por uma corrente imaginária e sem substância.
No  caso do  político americano, uma mentira pode ser sustentada por outra mentira, que desde que seja referendada por outros, vai sustentar o mundo de "verdades alternativas", termo que Trump mesmo inventou, logo depois da posse em seu primeiro governo.
A tal "verdade alternativa" revelou-se recentemente pelo seu verdadeiro nome: censura. O governo americano pressionou a rede americana de televisão do ar, ABC, a tirar do ar o programa  mais tradicional de entrevistas com o apresentador Jimmy Kimmel, por ter ironizado o presidente Trump.
É o sombrio mundo da novilíngua criado por George Orwell, no livro 1984, onde mentira é verdade e liberdade é prisão. Para se colocar em prática é preciso muita desfaçatez, popularmente conhecida como cara-de-pau.